Os ritos nos educam
Os ritos, humanos e litúrgicos, nos educam. Precisamos nos educar para compreendê-los e integrá-los na vida. Sobretudo após o Concílio Vaticano II, com a reforma litúrgica, nos sentimos desafiados a termos uma participação ativa e consciente nas celebrações. Ativa e consciente não significa que todos devemos, o tempo todo, estar realizando algo. Refere-se ao conhecimento do rito, do que está sendo celebrado e conseguir inserir a vida pessoal, familiar e social nele. De fato, a educação da fé passa pelos ritos. Sua não compreensão irá produzir poucos frutos na vida. Muitas pessoas, não somente as crianças, não conseguem compreender o sentido de cada momento celebrado, sua riqueza, sua profundidade e tudo o que têm a ver com nossa vida. Daí, com facilidade, se sentem sem motivação para participar.
Nós somos seres simbólicos. Precisamos de símbolos, criados por nós, humanos, para dar sentido ao nosso viver, sobretudo às diversas etapas da vida. Sem deixar de ser o que são, assumem outro sentido, mais profundo. O próprio Deus se comunica a nós através de gestos significativos e de símbolos. Quando contemplamos a criação, nosso pensamento vai até Deus para dizer: muito obrigado. O símbolo e o rito nos conduzem para além deles. Nossos símbolos cristãos nos ajudam a solidificar nossa comunhão com Deus. Encontramos o sentido do viver nos símbolos e celebrações da vida. A sacralidade de todos os símbolos, da fé de cada religião, sempre devem ser respeitados por toda sociedade, como são garantidos pela lei.
A participação nas celebrações, sobretudo da eucaristia ou culto dominicais, passa pelo caminho de iniciação cristã: a certeza de sentir-se amado por Deus e a necessidade de celebrar esta presença de Deus na vida. Não basta dizer a alguém que deve participar da missa dominical porque é um preceito da Igreja. Esta identidade jurídica e dogmática será sempre válida, mas não suficiente, pois as pessoas devem sentir a alegria interior por estarem nas celebrações e na comunidade. Eis o segredo! A fé não é preceito jurídico somente, mas se insere no cotidiano da vida. Exatamente quando começamos a entender que cada sacramento e, sobretudo, cada eucaristia, somos convocados a viver como sendo “para mim” e “para nós”. Se tomarmos a eucaristia, podemos encontrar nela a síntese do que cremos, do que professamos, do que vivemos, da presença constante de Deus, do perdão e do louvor, da alegria e da tristeza que habitam nossa vida. Deste modo, cada eucaristia será mais frutífera. A catequese, no sentido amplo da palavra, deve fazer constantemente ressoar, a partir da Palavra de Deus, este sentido na vida de cada batizado.
A liturgia católica se repete sempre. Nós, porém, somos novos a cada celebração. A comunidade também é nova. Em cada celebração, da Palavra, dos sacramentos e da eucaristia, renovamos nosso encontro com o Senhor. Sentimos a alegria de partilhar a vida com Ele. Em cada celebração, temos o agir de Deus em nós e na humanidade. Ele age absolutamente livre, sem precisar de nosso consentimento. Por amor, nos acompanha e salva sempre. Não precisamos inventar coisas para celebrar. A única invenção é aprender a nos recolhermos diante de Deus, pela ação do Espírito Santo. Os sacramentos serão sempre os mesmos. A missa será sempre a mesma. Em cada celebração, somos renovados para a missão. Enfim, não precisamos criar coisas novas, mas aprendermos a conhecer os ritos e símbolos que nos acompanham no caminho do seguimento de Jesus Cristo.
Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta