Quem é meu próximo?

Estimados Diocesanos! Neste período de inverno, ouvimos muito falar de solidariedade e de amor ao próximo, e, talvez, muitas pessoas, querendo ajudar, ficam se perguntando: Quem é o meu próximo que tem necessidade da minha ajuda? Em meio a tantas situações que nos envolvem no cotidiano da vida, podemos ter dificuldades em identificar o próximo que precisa de nós.

Também Jesus, num certo dia, foi interrogado por um mestre da Lei, que desejava herdar a vida eterna, e querendo ter uma resposta que fosse ao encontro do seu desejo e lhe livrasse o coração da angústia, lhe perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna”? Antes de fazer a pergunta, este homem, que era doutor da Lei, reconhece que existe um desejo que habita dentro de si e move seu coração: “a vida eterna”.  

“O que devo fazer para herdá-la”? Pergunta o doutor da Lei. Jesus não dá uma solução pronta, mas orienta o doutor para que ele mesmo encontre uma resposta através da leitura da Lei, que estava nas Sagradas Escrituras. E afirma: Ali, tu mesmo encontrarás a resposta. Mas Jesus, não o abandona. Prossegue o diálogo com o doutor, dizendo que para viver eternamente é suficiente fazer aquilo que diz a Lei, o que está escrito na Sagrada Escritura, envolver-se com a Palavra de Deus em primeira pessoa, deixando que ela conduza a sua vida. Mais ainda, diz: na Palavra encontrarás a semente da vida e praticando-a viverás eternamente, desde agora.

No coração daquele homem, porém, existe um bloqueio, uma palavra que não o ajuda a encontrar uma resposta para a pergunta que está perturbando a sua vida. “O meu próximo”. Quem é este meu próximo? Ao término da parábola, Jesus abre a inteligência do doutor da Lei, refazendo a pergunta que o incomodava a partir da parábola do bom samaritano: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes”?

Identificar o próximo parece não ter sido o problema para o doutor da Lei, nem deveria ser para nós, na nossa realidade de hoje. Ele está ali, caminha na mesma estrada que eu percorro todos os dias, ou quem sabe no final da rua onde eu moro, ou no bairro que está na periferia perto do meu local de trabalho. Ele está presente na minha realidade social e comunitária, sofrendo, necessitado de compaixão e proximidade, de alguém que se ocupe de suas feridas humanas, sociais e espirituais.

A presença do próximo não deve ser construída, mas descoberta, revelada, no contexto em que vivemos, assim como a presença de Deus na minha vida. Talvez, o mais difícil seja deixar-se fazer próximo: tomar consciência que não é um mérito nem vanglória poder ajudar, e, com humildade, fazer aquilo que me é possível fazer, tornando real o amor na ação que realizo. Para que o dom não humilhe o outro, devo dar não somente alguma coisa do que me pertence, mas a mim mesmo; devo saber estar presente no dom que ofereço (cf. Bento XVI, Deus caritas est, 34-35).

Tende todos um bom domingo.

+ Dom José Gislon, OFMCap – Administrador Apostólico de Erexim