Querida Amazônia – II
Recentemente o Papa Francisco emitiu uma Exortação Apostólica, chamada Querida Amazônia. O documento se dirige a todo mundo e espera que a Igreja adquira sempre mais rostos multiformes, com encarnada pregação, espiritualidade e estrutura. O Papa apresenta 04 sonhos:
- Sonho social: uma Amazônia que luta pelos direitos e pela dignidade dos mais pobres;
- Sonho cultural: uma Amazônia que preserve a riqueza cultural;
- Sonho ecológico: uma Amazônia que guarde com zelo a beleza natural;
- Sonho eclesial: uma Igreja com rostos novos, de traços Amazônicos.
Na mensagem anterior, contemplamos o sonho social, hoje abordaremos mais o sonho cultural. Promover a Amazônia não significa colonizá-la culturalmente, mas cultivar sem desenraizar, fazer crescer sem enfraquecer a identidade, promover sem invadir. Há povos que vivem a sensação de serem os últimos depositários de um tesouro de sabedoria, destinado a desaparecer, enquanto avança a colonização pós-moderna que os empurra para o interior das florestas ou para as periferias e calçadas urbanas, por vezes em situações de miséria extrema, perdendo os pontos de referência e as raízes culturais que lhes conferiam identidade e sentido de dignidade, em simbiose com o meio circundante.
Os grupos humanos e estilos de vida são distintos como o território amazônico. São muito diferentes entre si e abrigam grande diversidade cultural e de sabedoria. Por isso não podemos generalizar com discursos simplistas e tirar conclusões a partir de nossos esquemas mentais consumistas que tendem homogeneizar todas as culturas. O documento incentiva os jovens para assumir suas raízes como sua força; e anima os idosos para revelar suas histórias e sabedoria ancestral para que os jovens bebam dessa fonte. É importante que alguns povos estejam escrevendo suas histórias e significado de seus costumes.
Fatores como o consumismo, o individualismo, a discriminação e a desigualdade constituem aspectos frágeis das culturas aparentemente mais evoluídas, dos chamados civilizados, enquanto que algumas etnias dos nativos desenvolveram um tesouro cultural em conexão com a natureza e com forte sentido comunitário, que nos questionam profundamente.
É a partir das nossas raízes que nos sentamos à mesa comum para dialogar e aprender mutuamente: “Cuidar dos valores culturais dos grupos indígenas deveria ser interesse de todos, porque a sua riqueza é também a nossa” (QA 37). Não se trata de defender um indigenismo fechado, a-histórico e estático que se negue a toda e qualquer forma de mestiçagem: “É possível desenvolver relações interculturais onde a diversidade não significa ameaça” (cf. QA 37-38).
A economia globalizada danifica a riqueza humana, social e cultural. Desintegra as famílias e sua transmissão de valores, sobretudo com a invasão dos meios de comunicação. Se é deteriorado o meio circundante onde as culturas ancestrais se desenvolveram, estas igualmente serão afetadas.
Na próxima mensagem falaremos do sonho ecológico do Papa Francisco em relação à Amazônia e ao mundo.
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul