Ser da Família de Jesus pela Escuta da Sua Palavra

Estimados diocesanos. O mês da bíblia nos faz escutar, refletir e acolher a Palavra de Deus, com renovada atenção, e sempre mais nos damos conta que ela é alimento necessário para vivência de nossa fé e nos orienta no caminhar como discípulos/as missionários/as dentro das diversas realidades do mundo, onde tentamos externar nosso testemunho cristão.

A frequente leitura dos textos da Sagrada Escritura nos ajuda a descobrir sua riqueza permanente, mas também sempre nova nas diversas situações de nossa vida. Por isso afirma Bento XVI: “A Bíblia não permanece uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e atual” (VD 5). O mesmo Espírito Santo que inspirou a Palavra continua agindo em todos os tempos. Sua fecunda presença acontece, sobretudo, nas celebrações da Palavra, que se tornam forma privilegiada de encontro com o Senhor e com os irmãos e as irmãs (cf. VD 65 e 73).

O Evangelho segundo Marcos (Mc 3,20-35), proposto para o 10º Domingo do Tempo Comum (Ano B), descreve uma interessante linguagem que apresenta Jesus como quem “voltou para casa com seus discípulos” (Mc 3,20). A “casa” não é apenas um lugar físico, mas tem um valor simbólico: ambiente onde Jesus se reúne com os discípulos e discípulas e lhes explica a Palavra, formando sua nova família: os que fazem a vontade de Deus. Estes são chamados por Jesus como mães, irmãos e irmãs (cf. Mc 3,35). Portanto, os de dentro da casa, escutam e acolhem a Palavra, tornam-se a nova família, não formada pelos laços do sangue, mas pela fé e seguimento de Jesus.

Então perguntamos: – Quem são os de fora? Pelo Evangelho citado (Mc 3, 21), percebemos que são os que querem forçar Jesus a sair da casa, isto é, vir para fora, desistir de sua missão, pois ela pode causar problemas para ele e seu parentesco. Outro grupo que deseja ver Jesus fora da casa do discipulado e da missão é formado pelos mestres da Lei, adversários de Jesus, vindos de Jerusalém, centro político e religioso, que não querem ouvir e acolher a sua mensagem. Mais do que isso, procuram desmoralizá-lo, atribuindo ao demônio as obras de Deus que Jesus está realizando (cf. Mc 3, 22). Não lhes interessa servir à verdade, mas usá-la para confirmar as próprias opiniões religiosas e posições de poder. É dentro deste contexto que Jesus usa a frase: “Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado” (Mc 3,29). Esta blasfêmia consiste em atribuir ao demônio o que é obra de Deus ou atribuir a Deus o que é obra do demônio. É mais do que fechar-se ao Espírito de Deus: é atribuir ao demônio o que vem de Deus. Ou usar o nome de Deus e sua Palavra para obras e atitudes demoníacas.

Diante deste Evangelho, Silvano Fausti, profundo conhecedor da Sagrada Escritura, indaga: “Somos verdadeiramente ‘seus’ ou estranhos a ele, estamos ‘dentro’ ou ‘fora’, escutamos o seu chamado ou o mandamos chamar, o seguimos ou queremos que ele nos siga… escutamos o Espírito ou blasfemamos contra ele? Todas estas perguntas tocam a questão da nossa salvação, que consiste no ser ‘com ele’ como ele é na realidade, e não como nós queremos que fosse” (O Pão Nosso de Cada Dia, junho de 2021, p. 24).

No final de nossa mensagem, concluindo o mês dedicado à Bíblia, convidamos todos/as a valorizar sempre mais a Sagrada Escritura em nossa vida, seja em nossas celebrações litúrgicas, nos encontros comunitários e catequéticos, nas famílias e mesmo pessoalmente. Seja a Palavra de Deus: Luz em nosso caminho! (cf. Sl 119, 105).

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul