Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

A Assunção de Nossa Senhora é celebrada em todo o mundo cristão, desde há muitos séculos. São João Damasceno, na segunda metade do século VII, deixou um sermão famoso sobre a «dormição» de Nossa Senhora no qual nos transmite a tradição desta verdade de fé.

O texto da 1a Leitura, tirado do Apocalipse (Apocalipse 11,9; 12,1.3-6.a0) é uma proclamação da vitória da Igreja sobre o demônio, pela intervenção de Maria. Esta certeza foi já profetizada no Gênesis. «Ela esmagará a cabeça» da serpente infernal. A serpente do Gênesis, porém, armará ciladas ao seu calcanhar, tentando atingi-lo. A figura do calcanhar usa-se na linguagem corrente para significar o ponto mais vulnerável, mais sensível de uma pessoa. Para uma mãe, o que ela tem de mais sensível são os filhos. Até ao fim dos tempos, o demônio procurará arrastar os filhos da Mulher – a Virgem Imaculada – à eternidade infeliz.

Esta Mulher aparece agora gloriosa na visão do Apocalipse em luta contra o Dragão (a serpente infernal) e vencendo-o.

Por ter sido escolhida para ser a Mãe de Deus, Nossa Senhora foi preservada, pelos méritos de seu Filho, da corrupção do túmulo, por um privilégio singular.

Qual dos filhos, se pudesse, não faria o mesmo à sua mãe? Maria é a Arca da Aliança que guardou em seu seio durante nove meses o Filho de Deus, O estreitou contra o coração, muitas vezes o alimentou  e defendeu dos perigos.

Ao meditarmos nesta verdade, podemos raciocinar fundamentados em outro dogma mariano, o da Imaculada Conceição: Deus podia tê-lo feito; convinha que o fizesse; e, portanto, o fez.

A manifestação de Nossa Senhora, nesta visão do Apocalipse, é também um apelo à santidade pessoal para cada um de nós. Salvas as distâncias, cada um de nós está vocacionado para se parecer com Ela. Só o seremos na medida em que procurarmos que o Espírito Santo nos transforme nesta luz que é a graça de Deus.

A presença de Maria na Igreja e em nossas vidas é um apelo à coragem e ao otimismo, nesta luta sem tréguas. Basta que façamos o que está ao nosso alcance, para que o Povo de Deus triunfe.

Não será, com certeza, uma vitória ao modo humano de pensar, com triunfalismos que a nada conduzem, mas uma fermentação de santidade em cada um de nós e à nossa volta.

«Na cabeça, uma coroa de doze estrelas», nos diz o texto do Apocalipse. É uma alusão às doze tribos de Israel, a todo o Povo de Deus da Antiga Aliança. O Povo de Deus da Nova Aliança, que nasceu do lado aberto de Cristo na Cruz é a Igreja.

A coroa mais preciosa para uma mãe são os seus filhos ornados com as virtudes. Com que alegria falam elas das qualidades, boas ações e triunfos daqueles que deram à luz!

Embora nos sintamos muitas vezes tentados pelo desânimo, quer pelas dificuldades que o Dragão infernal semeia no nosso caminho, quer pelas tentações contra a fé que nos sugerem a derrota ou que tudo acabaria com a morte, a presença de Maria Santíssima, gloriosa em corpo e alma no Céu, é uma ajuda para vencermos nesta luta quotidiana. Basta que levantemos o olhar para Ela, por um simples pensamento ou breve oração, para sentirmos renovar as nossas forças.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen