Tempo de cuidar
Vivemos um tempo que exige especial cuidado. O COVID 19, que nos tomou de surpresa, veio revirar nossa vida, nossos planos, nossa economia, nosso lazer, nossa saúde e, também, nossa fé. Por isso, a CNBB nos convidou a intensificar o que já fazemos, com um olhar mais amplo, de cuidar. Precisamos ir discernindo e convivendo a cada dia com a incerteza da presença da pandemia. Diante disso, ouvir e seguir o que pedem as autoridades é muito prudente.
Cuidar de nossa fé. Muitas foram as orientações para vivermos este momento de distanciamento social e das celebrações de maneira frutuosa. Continuamos a ser Igreja doméstica, sem deixar de ser a Igreja Católica. Rezamos em casa, com a família. Os subsídios para a oração e o culto são muito bons. Sairemos fortalecidos na vivência familiar. Todos os dias, fazemos nossa Leitura Orante da Palavra. Seguimos as celebrações eucarísticas de nossa paróquia via rádio, televisão ou facebook. Louvamos a Deus por estes meios de comunicação, que neste momento nos unem. Importante que a celebração seja acompanhada em tempo real, com a postura própria de quem está rezando. O vínculo com a comunidade não cessou. Vivemos o tempo da espera do retorno para a eucaristia na comunidade. Sabemos que a celebração eucarística é “fonte e cume da vida da Igreja” (LG 10). Contudo, vale recordar dois pontos. O primeiro é que ninguém pode se sentir isentado desta alegria do vínculo eclesial eucarístico, neste tempo da espera. O segundo, a compreensão de que somos uma igreja eucarística. Todos os batizados somos um em Cristo e os frutos de sua vida, morte e ressurreição estão na sua Igreja. Vivemos a comunhão e missão eclesiais. Somos Igreja sempre, mesmo fisicamente e temporariamente distantes. Nossos padres, todos os dias, celebram a eucaristia nas intenções do povo da Diocese. Não precisamos nos desesperar por não podermos participar plenamente da eucaristia, isto é, de comungar. Fazemos comunhão com os irmãos e irmãs de fé, fazemos o bem cuidando dos outros, vivemos a missão na comunidade e, aguardamos o dia em que poderemos celebrar plenamente nossa comunhão eclesial, isto é a eucaristia. Como um post do facebook afirmou: “A primeira aglomeração que eu quero é ir à Igreja, ver aquela casa lotada e todo mundo se emocionando, sentindo a presença de Deus e agradecendo por ter passado esta tempestade”. Continuemos a viver a comunhão e a missão eucarísticas, na espera do dia da plena celebração.
Cuidar dos pobres e sofredores. Não seremos cristãos autênticos sem este olhar privilegiado e preferencial com os sofredores. Neste momento, sobretudo, são abençoadas as iniciativas de auxílio aos que mais precisam. A Igreja é como um “hospital de campanha”, disse Francisco. Recordamos os profissionais da saúde e assistentes sociais. Nossas paróquias já foram motivadas a continuar sua missão de recolher e repassar os alimentos e produtos de higiene. Várias outras iniciativas, sem serem noticiadas, estão acontecendo na vida pessoal e familiar. Muito importante é a disposição de ouvir os que estão passando por momentos difíceis, via telefone, nas paróquias. O cuidado é amplo e exige proximidade sempre.
Meu convite é que, na instabilidade deste momento, não percamos nunca a fé, a esperança e a caridade. Juntos iremos atravessar este deserto e sairemos melhores. A cada dia é importante nos perguntarmos, o que estamos aprendendo com tudo isso? De maneira forçada, talvez, aprendemos a viver com mais simplicidade, mas fraternos e solidários. Oremos pelos falecidos, cuidemo-nos uns dos outros e sejamos solidários.
Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta