Trabalhar: Por quê? Para que?

Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre.

“O trabalho é um bem do ser humano (…) porque, mediante o trabalho, o ser humano não somente transforma a natureza, adaptando-a às suas próprias necessidades, mas também se realiza a si mesmo como ser humano e até, num certo sentido, se torna mais humano” (J. Paulo II).

No trabalho “a pessoa exerce e realiza uma parte das capacidades inscritas em sua natureza. O valor primordial do trabalho está ligado ao próprio ser humano, que é seu autor e destinatário. (…) Cada um deve poder tirar do trabalho os meios para sustentar a si e aos seus, e para servir à comunidade humana” (CIC 2428).

Recordar a dignidade do trabalho auxilia a compreender sua importância. Ele é meio para o próprio sustento e serviço à comunidade humana. Mas como pode alguém desenvolver plenamente suas capacidades se lhe é negada a possibilidade de trabalhar?

Um número expressivo de gaúchos se encontra sem trabalho. Recentemente várias indústrias fecharam suas unidades no Estado e demitiram os funcionários. Causa estranheza as motivações para o encerramento das atividades das empresas: a consolidação industrial, a necessidade de manter a competitividade, a otimização da logística, a maior flexibilidade para o transporte da matéria prima e maior eficiência de suas operações. Em nenhum momento se considera o trabalhador que necessita do trabalho “para sustentar a si e aos seus”. Jamais se considera a necessidade pessoal.

Sem trabalho não há esperança! Sem esperança, não há futuro!

A falta de trabalho dói para quem não tem como ganhar a vida honestamente com o suor do próprio rosto. Essa realidade contradiz a Declaração Universal dos Direitos humanos: “Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego” (art. 23).

Sem trabalho digno para todos a economia não melhora, a vida civil se corrompe e o habitat se deteriora.

Promover um lugar digno de trabalho para todos “é uma grande responsabilidade humana e social, que não pode ser deixada nas mãos de poucos nem acabar num ‘mercado’ divinizado” (Papa Francisco).