Um vírus e a imposição da solidariedade

“Tudo está interligado”! Esta afirmação do Papa Francisco, em sua Encíclica “Laudato Si´” (2015), embora, quando de sua publicação, tenha causado estranheza, se mostra de grande atualidade, especialmente diante da crise que o mundo está experimentando à causa de um vírus.

Impôs-se de forma inesperada uma nebulosidade sobre nações e povos, provocando graves preocupações: quais as verdadeiras dimensões da crise estabelecida pela pandemia do coronavírus? Quantos estão sendo atingidos? Quem, se infectado, pode encontrar um sistema de saúde à altura de responder às próprias necessidades? Os poderes públicos estão respondendo aos desafios que se impõe? Como responder e quem responde ou responderá pelas escolhas que, em algumas regiões, provavelmente se impõem aos profissionais da saúde entre aqueles que podem receber o atendimento necessário e os que não recebem, pois faltam condições mínimas para atender a todos adequadamente? Quantos ainda morrerão atingidos pelo vírus?

O ser humano, após essa crise, continuará certamente vivendo na Terra, como também sendo mortal e frágil. Também, provavelmente, o vírus, segundo a ciência, continuará presente no meio ambiente. Este minúsculo ser subverteu a ordem mundial em suas dimensões social, política, econômica e também religiosa.

A tradição cristã recorda a importância de obras que dizem respeito ao cuidado e a promoção da vida, qual caminho de salvação. Recorda também o necessário cuidado da casa comum nas suas diversas dimensões: corpo humano físico, familiar e social, e o meio ambiente.

Recorde-se que o seguimento de Jesus não se reduz a um problema da espiritualidade. Ele pressupõe o empenho e determinação na tarefa de construir a fraternidade humana, fundamentada na justiça e na paz.

É urgente e imperiosa a necessidade de planejar o futuro. A esperança cristã se torna uma necessidade vital. Ela “é sempre essencialmente esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim” (Bento XVI), afinal habitamos a Terra e continuaremos frágeis e mortais.

Sustentados pela fé, capazes de caridade e animados pela esperança colaboramos para deixar o mundo um pouco melhor para aqueles que virão depois de nós.

Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)