Uma sede insaciável no coração humano
Inquestionável que há um grito, uma inquietação no coração humano que perpassa todos os povos, tempos e lugares. A sensação de ausência de algo está sempre presente. É uma sede, um desejo que, quase sempre, não se compreende a razão. Em outras palavras, há uma sede de sentido mais profundo da própria vida, sede de plenitude, de paz, de alegria, que, a partir de um olhar marcado pela fé, é, na verdade, uma profunda sede de Deus. Já afirmava Santo Agostinho: “inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti”.
O ser humano precisa reconhecer e aceitar que essa sensação de incompletude é algo constitutivo do próprio ser. Tal compreensão o leva a perceber que o homem não é o senhor da verdade e nem tem resposta para muitas questões da existência humana. Eis a razão pela qual o mesmo precisa ter consciência de ser criatura imperfeita, limitada e frágil e como tal deve-se reconhecer. Em outras palavras, reconhecer-se sedento de infinito, de plenitude, de algo que o complete totalmente. Esse sentido verdadeiro da vida, sem dúvida, não será encontrado em coisas materiais ou em outras criaturas humanas. Assim sendo, essa consciência de uma sede de infinito, favorecerá abertura maior ao transcendente que, na nossa visão de fé, é o próprio Deus Criador e Redentor da humanidade.
Já dizia o salmista: “Ó Deus, tu és o meu Deus, desde a aurora eu te busco. Minha alma tem sede de ti; por ti deseja a minha carne, numa terra deserta, seca, sem água” (Sl 63). Quando a pessoa não busca em Deus a resposta para essa sede presente no coração, certamente buscará em outras fontes. Contudo, essas outras fontes, na verdade, são puras ilusões que vão aos poucos gerando um vazio existencial e levando a pessoa a perda do sentido da própria vida. É o que acontece com muitos que são apegados aos bens materiais, ao poder e também aos prazeres passageiros, acreditando que isso, sim, é viver. Sem contar que, vivendo assim, geram sofrimentos para si e, consequentemente, para tantos outros. Exemplo disso é a ganância que, muitas vezes, cega o ser humano e leva a destruição de tantos semelhantes e também do meio ambiente. E os mais pobres e já fragilizados da sociedade são sempre os que mais sofrem com isso.
Por fim, que essa experiência inusitada e exigente do COVID-19, favoreça para que cada ser humano compreenda melhor o que verdadeiramente é importante e essencial na vida e não se deixe levar pelas falsas promessas de felicidade que o mundo apresenta. Compreender o verdadeiro sentido da vida supõe aceitá-la como um dom precioso de Deus e, por isso, vivê-la com responsabilidade e zelo.
Dom Aparecido Donizeti de Souza, Bispo Auxiliar de Porto Alegre