Ungidos e enviados pelo Espírito

A Solenidade de Pentecostes atualiza a certeza de que todos nós cristãos, fomos, no dia de nosso batismo, pela primeira vez, ungidos pelo Espírito Santo, para a missão de sermos “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt 5,13.14). Fomos ungidos, consagrados e enviados. Participamos, assim, sacramentalmente da unção espiritual de Jesus Cristo, quando na Sinagoga de Nazaré revelou sua identidade e missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres” (Lc 4,18). De fato, “Deus ungiu Jesus de Nazaré com Espírito Santo e com poder” (At 10,38), nos atesta Lucas nos Atos dos Apóstolos. A força e o dinamismo do Espírito Santo agem nele, movem-no desde seu interior, dando-lhe, no momento oportuno, a mansidão de coração ou a autoridade e determinação em sua missão, até o fim.

Todos os que vivem a consagração batismal são participantes da unção espiritual de Cristo e feitos, segundo o estado de vida, sujeitos eclesiais e sinais do Reino de Deus no mundo. Numa sociedade na qual cresce a visão materialista da vida e, por isso, marcadamente superficial, guiada pela “cultura do descarte”, como fazem falta os valores espirituais.  Todo cristão é marcado com um selo espiritual para fazer um caminho de configuração a Jesus Cristo. É em razão desta unção que são de Cristo, são ungidos, são cristãos e, como tal, participam também de sua missão.

Acolher o Espírito Santo é permitir que Ele seja o dinamismo interior que conduz nossas ações. Ser um batizado, seguidor de Jesus Cristo, é deixar-se guiar pelo seu Espírito. Permitir que Ele renove constantemente nossa vida e venha em auxílio de nossa fraqueza (cf. Rm 8,26). Que a força da Ressurreição do Crucificado que entrou no mundo continue a fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21, 5). No dizer de nosso Papa, “Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras, mas, sobretudo, com uma vida transfigurada pela presença de Deus” (EG 259). E continua dizendo: “Sei que nenhuma motivação será suficiente, se não arder nos corações o fogo do Espírito” (EG 261).

É pelos seus frutos que reconhecemos quando uma pessoa se deixa guiar pelo Espírito.“O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”(Gl 5,22-23). Esses são os resultados de uma vida guiada pelo Espírito Santo. Estas pessoas vivem na humildade, não se impõem e não se fazem notar. São um grande presente para a Igreja e a sociedade, em tempos de mediocridade e superficialidade espiritual. “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir” (Francisco, Gaudete et Exsultate, n.7). Estes cristãos fazem a diferença, pois irradiam paz interior e espalham “o bom perfume de Cristo” (2Cor 2,15). Sem saber, são um sinal que manifesta a presença de Deus, pela conduta misericordiosa, acolhedora e corajosa na promoção da vida. Não vivem na dispersão, mas na agitação de nosso tempo, sabem que podem retornar constantemente ao centro onde Deus habita, pois somos templos vivos do Espírito Santo (cf.1 Cor 3.16, 17). Nesta fonte interior, unifica-se a existência, integram-se as cruzes, discerne-se o caminho e tomam-se decisões corajosas. O belo é que estas pessoas estabelecem relações com os outros tendo como ponto de partida não interesses pessoais ou ideologias, mas, a partir da comunhão com Deus, estabelecem uma união profunda com toda a humanidade, pois o Espírito cria unidade.

Paulo convida a “deixar-se guiar pelo Espírito” (Gl 5,18). Ele fortalece os ungidos para, como Ele anunciar a Boa Nova àqueles que a aguardam com esperança, como a terra seca e árida.

Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta