Ungidos pelo Espírito de Jesus Cristo e por Ele enviados!
O próximo domingo, o último do tempo comum, as comunidades cristãs católicas do Brasil o dedicam aos leigos e leigas. E este destaque, que foi instituído em 1991, está sob a luz da solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo
É pouco lembrar que os leigos e leigas são a maioria absoluta do povo católico, especialmente diante da criticável concentração do poder de legislar, governar e decidir nas mãos de uma minoria de pessoas ordenadas, por mais respeitadas que sejam. Tanto é que a palavra “leigo” geralmente dá a ideia de desinformado, incapaz, irrelevante,.
Não é exagero afirmar que, em termos gerais, a Igreja Católica Romana é clerical, e, frequentemente, clericalista. Evitamos sê-lo em termos teóricos, mas, na prática, e apesar dos cuidados e esforços, as decisões, orientações e ações da Igreja consideradas mais relevantes continuam estreitamente dependentes dos ministros ordenados.
A celebração do Dia Nacional dos Leigos e Leigas é uma provocação para que todos os membros da Igreja – ministros ordenados, pessoas consagradas, leigos e leigas – levemos a sério o fato de sermos todos membros de um só corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo, que estamos a serviço uns dos outros e temos o Evangelho como regra. Nesse corpo, o clero não pode usurpar o lugar da cabeça, pois esse lugar pertence a Cristo.
O Dia dos Leigos e Leigas é também um chamado à conversão de mente e de coração, de posturas e de relações. Os Bispos do Brasil afirmam: “Não é evangélico pensar que os ministros ordenados sejam mais importantes e mais dignos, sejam ‘mais igreja’ que os leigos e leigas. A dignidade não vem dos serviços e ministérios que cada um/a exerce, mas da iniciativa de Deus, da incorporação a Cristo pelo batismo” (Cf. CNBB, Doc. 105, § 109).
Isso é tão sério e tão cheio de consequências que vale a pena repetir: a dignidade dos cristãos não decorre do ministério que lhes é conferido e que exercem em favor da Igreja, mas da pertença a Jesus Cristo pelo batismo! Leigos e leigas são, como os demais membros do povo de Deus, pessoas ungidas pelo mesmo Espírito que ungiu, guiou e sustentou Jesus em sua missão emancipadora, para continuar essa missão nas atuais circunstâncias. Nada menos que isso!
É com razão que, no Documento referido, os Bispos afirmam também que “os cristãos leigos e leigas que vivem sua fé na vida cotidiana, nos trabalhos de cada dia, nas tarefas mais humildes, no voluntariado, cuja vida está escondida em Deus, são o perfume de Cristo, o fermento do Reino, a glória do Evangelho!” Isso não é dito dos bispos, padres, diáconos, religiosos ou religiosas, mas dos leigos e leigas! Urge, pois, que passemos do papel à vida, das declarações às ações, da poesia à criativa ousadia.
Jesus Cristo “reina” e torna efetivo seu senhorio do mundo mediante a ação generosa, lúcida e transformadora desses homens e mulheres que dão o melhor de si, individualmente ou articulados em grupos eclesiais, nos espaços nos quais se fazem presentes, e não apenas no interior da comunidade eclesial. Sem essa expressão missionária, a Igreja seria nanica, estéril e com duvidoso futuro.
Dom Itacir Brassiani, msf – Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul