Viver é celebrar
Como é bonito poder celebrar o chamado, a vocação ou a escolha de um estado de vida. No mês de agosto, mês vocacional, a mãe Igreja nos convida a celebrarmos a dimensão da vocação, do amor-serviço como estado de vida, mas também em função do Reino de Deus, compromisso com o Evangelho.
Quando falamos em vocação, muitas vezes não temos presente que ela está ligada a um estado de vida e não a uma profissão, embora no exercício de certas profissões é importante ter presente uma dimensão vocacional, que vai muito além da capacidade técnica da profissão, porque é preciso fazer renúncias, colocar amor, dedicação e coração, manifestando compaixão pelo próximo. Sem isso, tudo pode ser tecnicamente perfeito, mas quando falta o humano, o que é perfeito pode ser frio e distante em relação à vida.
O discernimento que nos leva a fazer uma opção vocacional deve ser refletido e amadurecido a partir da voz do coração, que nos aponta o caminho da escolha de um estado de vida, tendo presente que cada um de nós vai viver as alegrias e as provações da escolha no dia a dia. Por isso, não devemos fazer uma escolha de vida ou abraçar uma vocação porque alguém acha bonito, mas porque seguimos a voz do coração, que fala mais alto do que todas as vozes do mundo, e somente Deus e quem sente o chamado sabem a razão da escolha, que pode ser o ponto de discórdia em muitas famílias nos dias atuais, quando nos referimos ao chamado vocacional, para seguir a vocação sacerdotal ou a vida consagrada, nas diversas formas e carismas que estão a serviço do Evangelho na Igreja, Povo de Deus.
Às vezes, tenho a impressão que vivemos em um tempo em que queremos ter a certeza de tudo, ou não assumimos nada. Temos medo, não aceitamos correr risco nenhum, muito menos o de entregar a vida, seguindo o chamado do coração, que nos pede para assumirmos um compromisso de amor com a causa do Evangelho, ou para partilhar a vida formando uma família. O duradouro e eterno parece que assusta os nossos jovens, porque vivemos numa sociedade do descartável, ou porque muitas vezes trazem no coração as cicatrizes de escolhas vocacionais malsucedidas, que deixaram marcas negativas na sociedade.
Não devemos ter medo de abraçar um estado de vida ou uma vocação seguindo a voz do coração. E tenhamos presente que as pessoas têm sentimentos e o amor é eterno porque provem de Deus, mas se manifesta entre nós nos pequenos gestos do dia-a-dia, na família, na comunidade e na sociedade.
Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul e Presidente do Regional Sul 3 da CNBB