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A salvação em Cristo e o Ano Litúrgico

Para os que creem em Jesus Cristo é algo certo que não existe salvação fora dele. Ele verdadeiramente é o único Senhor e Salvador de toda a humanidade. Salvação essa que corresponde às inquietações e sede de eternidade no coração humano, de vida que não se esgota e nem termina aqui na terra. Somente quem sabe ouvir atentamente a voz interior, que é a voz do Espírito de Deus que habita em cada um de nós, poderá compreender essa verdade. Temos sede de vida plena, sede de algo que transcende este mundo no qual estamos.

Essa convicção e fé faz pensar em Cristo como centro em torno do qual deve se orientar toda a vida humana. Compreender o mistério que envolve a pessoa de Jesus Cristo desde sua encarnação, paixão, morte e ressurreição será o segredo para um verdadeiro sentido para a vida. Contudo, não basta compreender intelectualmente, mas sim fazer a experiência deste mistério na própria vida. É preciso reconhecer em âmbito pessoal que verdadeiramente Cristo se encarnou, sofreu a paixão, aceitou morrer na cruz e ressuscitou pela salvação de cada um de nós. É assim que se entende fazer uma experiência pessoal do Mistério Pascal de Cristo. Na verdade, “todos os homens são chamados a esta união com Cristo, que é a luz do mundo, de quem procedemos, por quem vivemos e para quem tendemos” (Lumen Gentium n. 286).

Segundo a Doutrina da Igreja Católica, falar do Ano litúrgico, que tem seu início com o Tempo do Advento como preparação para o Natal e se encerra com a Festa de Cristo Rei em fins de novembro, é falar da Salvação que Deus continua a oferecer aos homens e mulheres no hoje de nossa história.  E isso acontece de modo todo especial em cada celebração litúrgica.  Por isso que todo fiel batizado é chamado a participar ativamente do Mistério Pascal de Cristo que tem em sua ressurreição o momento ápice. Assim, ao participar com a mente, o coração e todo o ser, cada um poderá mergulhar mais profundamente neste mistério de salvação. Deus, com toda certeza, quer que todos sejam salvos em seu Filho Jesus. Por isso que a Constituição Sacrosanctum Concilium ao falar sobre a liturgia onde se realiza a “obra de nossa redenção” (SC. 2), insiste para que “os fiéis participem da liturgia de maneira ativa e frutuosa, sabendo o que estão fazendo” (SC, n. 11).

Para quem deseja verdadeiramente viver um seguimento como discípulo missionário do Senhor, e poder acolher mais profundamente a graça da salvação oferecida a toda humanidade, será fundamental uma busca constante em participar e viver com toda intensidade possível os momentos de celebração em nossas comunidades de fé. Lembremos sempre que o centro do Ano Litúrgico é o chamado tríduo pascal onde celebramos de forma mais solene a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Contudo, “o mistério de Cristo se desdobra por todo o ciclo anual, desde sua encarnação e nascimento até a ascensão, pentecostes e a expectativa, cheia de esperança, da vinda do Senhor” (SC. N.184).

Por fim, é necessário também ter presente que a liturgia deve estar integrada profundamente à vida cotidiana e essa, por sua vez, ligada à liturgia celebrada. Fé e vida devem caminhar sempre de mãos dadas. Por isso que o fiel cristão ao mergulhar mais profundamente no Mistério de Cristo nos momentos litúrgicos, consequentemente, irá mergulhar mais nas realidades humanas e se sentir mais comprometido com a construção de um mundo mais fraterno, justo e solidário onde a cultura do diálogo e da paz determinarão o modo de ser e viver de cada um.

Dom Aparecido Donizeti de Souza – Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre