Urgente: mais leitos de UTI!
Estamos vivendo um momento muito delicado da Pandemia. A Covid-19 continua a preocupar o sistema de saúde e as estruturas começam a colapsar novamente.
Todos nós estamos acompanhando a real situação, não tanto pelos meios de comunicação, mas pelos casos reais de nossos familiares que precisam utilizar o sistema de saúde: a situação é séria, muito séria mesmo! E o pior de tudo: neste cenário de caos, percebemos falta de clareza, competência e seriedade na condução da crise.
Hoje, se eu e você, precisarmos de uma vaga na UTI, teremos que entrar na fila de espera. Só nesta última noite (de 02 para 03 de março) foram 700 pedidos de leitos de UTI no Estado do Rio Grande do Sul, sendo que destes, 400 eram para pacientes com COVID e 300 para outras doenças. A demanda é muito maior do que a estrutura pode suportar.
O que vemos, então, no dia a dia? Uma transferência indevida de responsabilidade. O Sistema Estadual de Regulação de Leitos de UTI que deveria resolver a demanda atual de falta de leitos estruturados, vem minimizando a situação delegando transferências de cidade para cidade, de hospital para hospital. Com isso, a Central de Regulação de Urgências (SAMU) se vê obrigada a transferir pacientes graves de uma emergência para outra emergência, mesmo sabendo que não há garantia que surgirá uma vaga na UTI do hospital para onde está sendo transferido. Já houve casos de óbito durante o translado. Alguns casos simplesmente não havia critério ou lógica nenhuma na mudança de local. Outra situação grave é a questão local, já que esses translados deixam a região descoberta para o atendimento de urgências e emergências não infecciosas, tais como acidentes, suicídios, infartos, AVCs, agressões por arma de fogo e arma branca, entre outros.
Portanto, é bom lembrar que cabe ao Sistema Estadual de Regulação de Leitos de UTI garantir a seguridade e a integridade dos pacientes que estão cadastrados a espera de uma vaga. A Pandemia não começou ontem. Já deveria ter sido estruturado um sistema mais eficiente, diante da projeção que se fazia para esse ano de 2021. Mas, parece que subestimaram o vírus, ou realmente não priorizaram a saúde da população. Dessa forma, entendemos que não se resolve o problema da falta de leitos de UTIs, transferindo a responsabilidade para o SAMU encontrar vagas ou minimizando a situação com uma “aparente solução” que provém da mudança de local.
Sabemos que numa grande parte dos nossos Municípios encontramos um Pronto Atendimento ou hospital comunitário sem a complexidade necessária para o tratamento da COVID-19 e sem UTI, e até sem respirador. A pressão sobre os gestores públicos é grande para que o paciente seja transferido. Mas é importante destacar, que na situação atual, uma “transferência” não significa garantia de leito de UTI.
Existe um Plano Regulador para a distribuição dessas vagas em nosso Estado. Mas os critérios desse plano regulador realmente estão funcionando? Queremos esclarecimentos sobre essa prática operacional e seus critérios.
É urgente uma mobilização pública em torno do tema, uma melhor eficiência do sistema regulatório para os leitos de UTI e uma adequação mais eficaz diante das demandas. É um desrespeito e uma desumanização ficar escamoteando a real situação colocando pessoas em risco ainda maior.
Os profissionais da saúde estão se esgotando com isso, os familiares e os pacientes estão no limite, e a sociedade exige mais eficiência e respostas concretas com a devida transparência diante deste cenário caótico. Maquiar o colapso não resolve o problema! É claro que todos nós temos um papel imprescindível para a superação dessa crise. Como cidadãos, não podemos, também nós, transferirmos a nossa responsabilidade pessoal e comunitária para a gestão pública. Talvez, muito desse cenário se deve ao nosso laxismo e negacionismo em relação ao COVID-19.
Temos o dever moral de seguir os protocolos, respeitar o distanciamento social, usar máscara e, enfim, tomar todo o cuidado necessário para evitar a disseminação do vírus e suas cepas. Somente unidos podemos vencer essa pandemia. Não é momento de baixar a guarda, de se omitir e de minimizar, mas de assumirmos o protagonismo de uma geração que no futuro poderá dizer que fez de tudo para salvaguardar, em primeiro lugar, a vida dos seus cidadãos.
Dom Ricardo Hoepers – Bispo do Rio Grande