Vocês são a luz do mundo

A Palavra de Deus nos oferece, como alimento, o chamado Sermão da Montanha, onde Jesus orienta os seus discípulos: “Vocês são sal da terra e vocês são luz do mundo” (Mt 5,13-16).

O sal, na Bíblia, sempre foi usado, como ainda hoje, para dar sabor. Alguns teólogos interpretam que Jesus não está falando do sal, como no dia a dia, mas como uma metáfora em que os discípulos são chamados a dar sabor ao mundo, se oferecendo como o sacrifício da aliança que era oferecido no Antigo Testamento. Paulo chama os cidadãos de Roma para ofertarem seus corpos como sacrifícios vivos ao Senhor (Rm 12,1). A vocação cristã não é só oferecer sacrifícios a Deus, mas tornar-se sacrifício vivo para a salvação do mundo.

Jesus, com esta parábola, quer que seus discípulos se tornem sal da terra para dar sabor ao mundo em uma nova aliança. No entanto, os discípulos perdem a sua salinidade quando quebram a aliança com Deus e não permanecem fiéis, sendo incapazes de santificar o mundo, como oferenda.

E sobre a luz do mundo? Isaías descreve Israel como chamado por Deus para ser luz das nações (cf. Is 42-49). É uma imagem onde o povo fiel brilha na luz da verdade e na fidelidade à aliança, brilhando acima de outras nações gentílicas do mundo que foram tomadas pela imoralidade e a ignorância dos caminhos de Deus. Israel foi escolhido por Deus não por um capricho, mas para a salvação do mundo, para ser exemplo para o mundo, luz das nações.

No Sermão da Montanha é como se Jesus dissesse: “Eu estou chamando vocês para serem luz, não só das nações, mas para serem luz do mundo”. A imagem de uma cidade sobre uma montanha é a imagem da nova Jerusalém, os discípulos de Jesus são chamados a serem exemplo para o mundo. Eles devem levar as nações a verdadeira adoração, a verdadeira fé em Deus.

Jesus usa a imagem de um candeeiro, uma lâmpada de óleo a ser colocada no alto e não embaixo de uma vasilha. Assim, os discípulos são chamados a serem luz diante dos outros. Lemos no Evangelho: “Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). Jesus é inequívoco: a luz que deve brilhar são as boas obras. Algumas tradições cristãs afirmam que seremos salvos pela fé e que as obras não são importantes. Não é o que Jesus diz aqui. Ele exalta a importância das boas obras, não só para a salvação da alma, mas para a salvação do mundo. Que as boas obras são os meios visíveis para comunicar o Evangelho às nações. E que tudo seja para que Deus seja glorificado.

Isaías fala quais são as boas obras que o cristão deve realizar: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá” (Is 58,78). A Igreja ainda ensina: dar pousada aos peregrinos, assistir os enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos. São as obras de misericórdia corporais. Eis o caminho para sermos sal e luz para o mundo.

Dom José Mario Scalon Angonese – Bispo de Uruguaiana