As raízes bíblicas das Comunidades Eclesiais de Base
Para teóloga, o Apóstolo Paulo nos desafia a viver como cristãos nos centros urbanos
POR ROSINHA MARTINS
DE LONDRINA – PR
O lema do 14º Intereclesial das CEBs, “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3, 7), foi aprofundado na manhã desta quinta, 25, pela missionária de Maria (Xaveriana), biblista e assessora do CEBI, Irmã Tea Frigerio.
Irmã Tea centrou sua reflexão nos pilares bíblicos que dão e confirmam a identidade das CEBS. A expressão do autor sagrado que manifesta o jeito misericordioso de Deus lidar com seu povo, “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3, 7), é a memória fundante da fé Israelita que marca todas as experiências do povo de Israel com seu Deus, como também das primeiras comunidades cristãs.
A recordação contínua de que Javé desceu para caminhar ao lado daqueles que se encontravam à margem do Egito foi o que manteve viva a fé dos profetas, dos anawim e que levou Jesus a se deslocar da vida de Nazaré e percorrer os caminhos da Galiléia, Judeia e Samaria para construir as relações de ‘casa’. “Reconstruir a casa é apressar a vinda do Reino de Deus no meio dos pobres, dos excluídos da história”, assegura Irmã Tea.
O início das CEBs pode ser avistado tambémno Novo Testamento a partir do casal de Emaús, o qual se torna ícone das primeiras comunidades conjugando os elementos caminho-casa-mesa-missão, fundamentais para o seguimento radical de Jesus. “É neles que vislumbramos as sementes das CEBs porque Jesus, fiel à memória dos antepassados, anunciou o Reino de Deus no mundo judaico, na Palestina, ambiente no qual predominava o pensamento rural e este anúncio teve continuidade por meio daqueles que se colocaram no caminho do discipulado”, explica.
Mas para Irmã Tea é o Apóstolo Paulo que desafia os cristãos a viverem como Comunidades Eclesiais de Base no meio urbano. Ele apostava que se as comunidades vivessem relações alternativas poderiam enfrentar o império romano. “O fato de apostar em Jesuse nas pequenas comunidades lhe deram força para sair do traçado do caminho judaico, do traçado dos romanos, do traçado do ser apóstolo inventando e criando caminhos novos”.
Paulo de Tarso compreende que o movimento do caminho é a continuidade, a concretização histórica da memória de Javé libertador, da utopia de Jesus de Nazaré: reconstruir a casa. “A ‘casa’ se torna ‘ekklesia’. A sua Nazaré será as periferias das cidades, o mundo do trabalho manual, sua opção é identificar-se com Jesus de Nazaré, escutando os gritos que sai das cidades.”
Para finalizar a reflexão, Tea acentuou que Comunidades Eclesiais de Base são chamadas e desafiadas a assumir no contexto histórico atual, o projeto de vida que Paulo impôs para si e assumiu até o martírio: aprendeu a formar comunidades conhecendo a realidade; começou fora da porta da cidade, na periferia, no mundo dos pobres, das mulheres, dos trabalhadores, dos escravos; optou por trabalhar para se sustentar e se inserir no mundo dos trabalhadores manuais; escutou o grito que sai da margem, dos emarginados, dos que não contam; anunciou Jesus, Cruz e Ressurreição; animou e sustentou a resistência das comunidades e aprendeu uma nova linguagem: ser um profeta apocalíptico.
Fonte: Assessoria de Comunicação das CEBs