20 de Junho: Dia Mundial do Refugiado
Padre Arnaldo Rodrigues – Cidade do Vaticano
Não é de hoje que as pessoas caminham como peregrinos. Quando observamos o Antigo Testamento, vemos que neste mundo assumimos a condição de caminhantes – “Diante de ti não passamos de estrangeiros e peregrinos como todos os nossos pais; nossos dias na terra passam como a sombra...”. (1Cro 29,15). Assim grandes nações foram formadas, com os estrangeiros que constituíram novos povos e novas raças. E a todos Deus preparou-lhes um lugar – “Eles aspiram, com efeito, a uma pátria melhor, isto é, a uma pátria celeste. É por isso que Deus não se envergonha de ser chamado o seu Deus. Pois, de fato, preparou-lhes uma cidade…”. (Hb 11,16) – uma referência para que nunca esquecessem que aqui, embora estejam de passagem, possam criar as suas histórias e dar um rosto a um lugar.
Dia do refugiado
Na semana passada, de 12 a 14 de junho, aconteceu em Brasília o Seminário Internacional de Migrações e Refúgio. O Evento foi organizado pela Caritas Internacional – departamento caritativo da Igreja em todo o mundo – e teve como tema “Caminhos para a cultura do Encontro” . O evento contou com a presença do presidente da Caritas internacional, o Arcebispo de Manila, Filipinas, o Cardeal Luis Antonio Tagle.
Constantemente vemos nos noticiários, de modo mais explícito na Europa, o grande desafio do êxodo dos povos. Por um lado pessoas que buscam uma perspectiva melhor de futuro, escolhendo deixar seu país por um outro. Por um outro lado estão as centenas de milhares de pessoas que vivem o drama de serem obrigadas a deixar suas terras, histórias e sonhos, para escapar de um cenário de guerras, destruição e morte. Em todos os dois casos, há de se pensar que por trás deste cenário estão sempre pessoas: homens, mulheres, idosos, jovens e crianças.
No seu discurso ao Congresso Nacional nos Estados Unidos, o Papa Francisco relembrou a todos que neste continente “não temos medo dos estrangeiros, porque outrora muitos de nós fomos estrangeiros”. E recordou ainda que muitos de nós somos descendentes dos imigrantes. Afirmou também que “O nosso mundo está a enfrentar uma crise de refugiados de tais proporções que não se via desde os tempos da II Guerra Mundial. Esta realidade coloca-nos diante de grandes desafios e decisões difíceis.
Também neste continente, milhares de pessoas sentem-se impelidas a viajar para o Norte à procura de melhores oportunidades. Porventura não é o que queríamos para os nossos filhos? Não devemos deixar-nos assustar pelo seu número, mas antes olhá-los como pessoas, fixando os seus rostos e ouvindo as suas histórias, procurando responder o melhor que pudermos às suas situações. Uma resposta que seja sempre humana, justa e fraterna. Devemos evitar uma tentação hoje comum: descartar quem quer que se demonstre problemático. Lembremo-nos da regra de ouro: “O que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (Mt 7, 12).
A imigração, como falamos anteriormente, tem suas raízes na busca de uma vida melhor por meio das expectativas criadas em relação a um determinado país, ou por uma necessidade maior que impulsiona um povo a necessariamente deixar sua terra em busca de outra. Ninguém deixa a sua história por livre vontade, pois na realidade todos desejamos dar continuidade ao que aprendemos de nossos antepassados, levando uma tradição por meio das gerações futuras.
Quando isto não acontece e tudo vem interrompido, o sentimento é de incerteza e muitas vezes de medo. É exatamente neste momento que somos convidados a ir ao encontro, conforme frequentemente nos fala o Papa. Ajudar estas pessoas a se inserirem na nova cultura, para que vençam o medo, criem novas expectativas e se sintam inseridas numa sociedade que crie condições à uma vida estável para quem chega e para quem é daquele local.
A Igreja Católica, maior entidade caritativa do mundo, é a primeira a buscar incansavelmente junto aos governos dos diversos países as condições de acolhida, mas também de criar caminhos de paz e prosperidade nas regiões de maiores conflitos, para que se evite ao máximo esta evasão desmedida. Sua preocupação, acima de tudo, será sempre a pessoa e sua dignidade enquanto filhos de Deus. Nosso papel enquanto membros também desta Igreja, primeiramente é de entender esta situação global, difícil e aparentemente caótica, depois compreender cada pessoa que possa aparecer diante de nós necessitada de acolhida, recordando que o outro é o próprio Cristo.
“ Cada forasteiro que bate à nossa porta é ocasião de encontro com Jesus Cristo, que Se identifica com o forasteiro acolhido ou rejeitado de cada época (cf. Mt 25, 35.43). O Senhor confia ao amor materno da Igreja cada ser humano forçado a deixar a sua pátria à procura de um futuro melhor (Papa Francisco). Há muito ainda a fazer, porém o primeiro passo é este: ir ao encontro.”