500 anos da Reforma Luterana
Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta
No dia 31 de outubro recordam-se os 500 anos da Reforma Luterana. Nós, católicos, nos unimos aos irmãos luteranos numa comemoração conjunta. Não se trata de festejar, mas de fazer memória conjuntamente, para continuarmos e aprofundarmos o caminho da unidade do Corpo de Cristo, segundo o desejo de Jesus: “Para que sejam um, como nós somos um” (Jo 17,23). A divisão dos cristãos é contrária à vontade de Deus. Sabemos que o passado, que deixou chagas, é inalterável, mas nossa postura diante do passado pode e deve ser diferente. Esta comemoração comum é ocasião para aprofundar a comunhão entre católicos e luteranos. No território onde se encontra nossa Diocese, também vivem muitas comunidades de irmãos luteranos. Já existe, há muitos anos, um belo caminho de aproximação e amizade. Em ocasiões especiais, como as festas comunitárias, encontram-se,ajudam-se mutuamente e festejam juntos. Em algumas cidades, pastores e presbíteros católicos costumam se encontrar periodicamente para rezar e planejar ações comuns para o bem do povo. Estas e outras iniciativas existentes são louváveis.
“Luteranos e católicos hoje se alegram com o crescimento da compreensão, da cooperação e do respeito mútuos. Reconhecem o fato de que o que une é mais do que o que separa: sobretudo, a fé comum no Deus Triuno e a revelação em Jesus Cristo, assim como o reconhecimento das verdades básicas da doutrina da Justificação” (Comissão Luterano – Católico-Romana sobre a unidade, Do Conflito à Comunhão: Comemoração conjunta Católico-Luterana da Reforma em 2017, n. 1). Com certeza, a maneira como nós cristãos lidamos com nossas diferenças revela algo de nossa fé. Jesus dizia que a unidade é condição “para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). A Igreja reconheceu, desde o Concílio Vaticano II, que “dentre os elementos e dons com que, tomados em conjunto, a própria Igreja é edificada, alguns e até muitos e muito importantes podem existir fora do âmbito da Igreja Católica: a palavra de Deus escrita, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade e outros dons interiores do Espírito Santo e elementos visíveis” (UnitatisRedintegratio, 3). No diálogo ecumênico procura-se enfatizar, primeiro, o que se têm em comum e, somente após, avaliar as diferenças e buscar a verdade da fé cristã. Um duplo sentir se faz necessário: alegria por tudo o que temos em comum e dor pelas falhas do passado e divisões que ainda persistem.
Pelo batismo, católicos e luteranos, nos reconhecemos mutuamente como irmãos. No acima citado documento para esta comemoração, católicos e luteranos apresentam cinco imperativos ecumênicos: 1. “Mesmo que as diferenças sejam mais facilmente visíveis e experienciadas, a fim de reforçar o que existe de comum, católicos e luteranos devem sempre partir da perspectiva da unidade e não da perspectiva da divisão.” 2. “Luteranos e católicos precisam deixar-se transformar continuamente pelo encontro com o outro e pelo testemunho mútuo da fé.” 3. “Católicos e luteranos devem comprometer-se outra vez na busca da unidade visível, para compreenderem juntos o que isto significa em termos concretos, e buscar sempre de novo este objetivo.” 4. “Luteranos e católicos busquem juntos redescobrir a força do Evangelho de Jesus Cristo para o nosso tempo.” 5. “Católicos e luteranos em sua pregação e serviço ao mundo, devem testemunhar juntos a graça de Deus.”
Com certeza, esta comemoração conjunta é um momento da graça de Deus para o caminho da comunhão eclesial e o testemunho dos cristãos no nosso tempo.