A beleza da família
“Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio, o desejo de família permanece vivo, especialmente entre os jovens, e isso incentiva a Igreja.” Assim o Papa Francisco inicia a sua encíclica pós-sinodal sobre a alegria do amor na família, intitulada Amoris laetitia. É este mesmo espírito que anima e inspira o X Encontro Mundial das Famílias com o Papa, em Roma, que iniciou nesta quarta-feira 22 junho e se estende até o domingo 26, com cada dia dedicado a um tema específico. Podemos acompanhar as atividades online (através deste site), mas acima de tudo somos convidados a rezar e refletir sobre a beleza da família, que resiste e se mostra sempre mais significativa numa sociedade individualista, competitiva, estéril, líquida.
As famílias são mais do que nunca as provedoras da segurança psicológica e do bem-estar material. Isso foi muito evidente durante o período de pandemia que enfrentamos. A família se tornou o porto seguro de praticamente todas as pessoas. Foi na família que encontramos apoio financeiro, suporte emocional, acolhida no período de lockdown, assistência na hora do medo e do sofrimento. A família se tornou a referência fundamental ao longo de todo o período de instabilidade. O Governo, as ONGs, as instituições ajudam pontualmente, em casos específicos, mas em modo geral são as famílias que se unem e ajudam os seus membros naquilo que têm urgência.
Nesse sentido, resgatar o valor do matrimônio e da família é essencial, especialmente em tempo de “crise”. Esta foi certamente a intenção do Papa ao proclamar o Ano da Família, iniciado a 19 de março de 2021, dia de São José e do 5o aniversário de publicação da encíclica Amoris laetitia, e que se prolonga até o fim do Encontro Mundial, no próximo domingo, dia 26 de junho. Ano jubilar que se tornou uma oportunidade para aprofundar o sentido da família e da alegria do amor que a caracteriza, sendo concluído agora com chave de ouro em Roma.
A família é o núcleo fundamental da sociedade, a primeira escola, a primeira Igreja, o princípio e o alicerce da fé e da nossa vocação à santidade. A família “é a primeira escola de vida cristã e uma escola de enriquecimento humano, onde se aprende a tenacidade e a alegria no trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e sempre renovado e, sobretudo, o culto divino, pela oração e pelo oferecimento da própria vida”, afirma o Catecismo da Igreja Católica (n. 1657). E o Catecismo vai além. Recordando-nos a centralidade da família, afirma, no seu n. 1656: “Nos nossos dias, num mundo muitas vezes estranho e até hostil à fé, as famílias crentes são de primordial importância, como focos de fé viva e irradiante. É por isso que o II Concílio do Vaticano chama à família, segundo uma antiga expressão, Ecclesia domestica – Igreja doméstica. É no seio da família que os pais são, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros arautos da fé para os seus filhos, ao serviço da vocação própria de cada um e muito especialmente da vocação consagrada. É aqui que se exerce, de modo privilegiado, o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos filhos, de todos os membros da família.”
É primeiramente na família que experimentamos Deus, onde aprendemos a amar a Deus e ao próximo, sobretudo através do IV mandamento: “honrarás pai e mãe”. Os valores e os princípios que são vividos no pequeno âmbito familiar possibilitarão aos filhos uma vida social solidária quando eles crescerem. O próprio Jesus precisou da ajuda da sua família humana para crescer em “sabedoria, estatura e graça”. Foi ali que aprendeu a rezar e a amar, onde recebeu afeto e proteção. A família de Nazaré é por isso o nosso modelo de família. Dela devemos aprender e nela devemos nos inspirar para uma relação saudável entre todos os membros.
* Frei Darlei Zanon, religioso paulino