A conversão abre os olhos do coração
Estamos iniciando a terceira semana da Quaresma e, talvez, tu ainda não tenhas tomado a decisão de percorrer um caminho de conversão, de ir ao encontro do Senhor, confiando no seu amor e na sua infinita misericórdia de Deus e Pai.
Lembra-te, que existe um único lugar no mundo onde pode acontecer algo de extraordinário, de verdadeiramente novo; este lugar é o teu coração. A conversão é a novidade maior do coração do ser humano, porque ela é capaz de transformar o mundo, de lugar de inimigos em lugar de fraternidade entre irmãos e irmãs. Como cristãos, precisamos viver a nossa vida de batizados, mergulhados totalmente na vida de Jesus, no seu modo de amar, de relacionar-se com os outros, de avaliar fatos e pessoas, de estar diante do mal e da violência, sem deixar-se dominar pelo mal, sermos portadores e defensores da paz, do direito e da justiça, tendo presente o bem comum, que vela e protege a dignidade da pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus.
Percorrer o caminho de conversão é aderir àquele movimento do coração que nos consente de fazer nossos os sentimentos de Cristo, que não respondeu ao mal com o mal, com a murmuração, com a recriminação, mas com o bem até o fim, até derramar o seu sangue na cruz, por amor a cada um de nós.
No caminho da conversão, nós também podemos encontrar grandes obstáculos, que podem gerar desânimo ou motivar a nossa desistência de prosseguir na caminhada. E um dos maiores obstáculos é a murmuração, como nos recorda São Paulo na primeira carta aos Coríntios (1ª Cor 10,10). Não se trata da simples lamentação, tão comum na nossa vida diária, que já pode ser um indício de resistência e de imobilismo em relação à vida, que, por sua natureza, nos provoca sempre a sairmos dos nossos pontos de vista, marcados muitas vezes por ideologias e pouco pelo Evangelho, quando se trata de ver a realidade dos menos favorecidos da nossa sociedade. De forma mais profunda, a murmuração é um movimento contrário à conversão: não só nos impede de nos aproximarmos de Deus, mas também nos afasta dele. Este afastamento é o verdadeiro deserto que nos aprisiona e do qual o caminho quaresmal quer nos libertar, para vivermos a dignidade de filhos e filhas de Deus.
+ Dom José Gislon OFMCap. – Bispo Diocesano de Erexim