A esperança se renova
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo
Em tempos de grandes dificuldades as pessoas se comportam de maneiras diferentes. Entre outras reações, constatamos que algumas se dão por vencidas e se acomodam. Outras esperam que apareça alguém que possa mudar a situação de fora, de forma heroica e triunfal. Alimentam o desejo de que alguém vá mudar a situação por mim. Também existe a reação daqueles que cientes da gravidade da situação, procuram construir de forma criativa e corajosa soluções para as realidades a serem mudadas. São conscientes de que a mudança exige a própria participação.
O tempo litúrgico do advento, celebrado na liturgia católica para a celebração digna do Natal, é repleto de ensinamentos para alimentar a esperança nos cristãos. Lendo, meditando e rezando os textos que anunciam Jesus, os cristãos de hoje entram em comunhão com os sofrimentos e as expectativas daquela época. Com plena consciência de que não se volta no tempo, mas o passado ajuda a animar e fortalecer a vivência do tempo presente.
O tempo presente desafia a todos. É tempo propício para renovar a esperança. “É na esperança que fomos salvos”, diz São Paulo aos Romanos (Rm 8,24). Graças a ela podemos enfrentar o tempo presente, por mais custoso que seja. Mas qual esperança estamos falando? Onde se fundamenta. A esperança cristã se fundamenta em Deus e na sua proximidade com mundo. Natal é a presença viva de Deus, em Jesus Cristo. É a nossa grande esperança, afirma o papa emérito Bento XVI, diante das esperanças passageiras.
Aproximando-se o Natal é preciso lembrar que não se trata apenas de uma notícia informativa, mas é um acontecimento histórico que gera fatos e muda a vida. Provoca a reação as pessoas, gera um encontro com o Deus vivo e transforma de dentro a vida e o mundo.
A esperança coloca a pessoa em movimento, pois “Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, amor e sabedoria”, lê-se na segunda carta a Timóteo (1,7). Toda ação séria e reta do homem é esperança em ato. Todo nosso agir não é indiferente diante de Deus e nem diante o desenrolar da história. Resolver este ou aquele assunto que é importante para prosseguir a caminhada da vida, com o nosso empenho contribuir a fim de que o mundo se torne um pouco mais luminoso e humano, e assim se abram as portas do futuro.
O sofrimento faz parte da existência humana. Ele deriva da nossa finitude e, por outro lado, do volume de culpa que se acumula ao longo da história. Na luta contra a dor física se conseguiu grandes progressos, mas nunca vamos conseguir eliminar o sofrimento, simplesmente porque não conseguimos desfazer-nos da nossa finitude. Como também não conseguimos eliminar o poder do mal, da culpa que é fonte contínua de sofrimento, devido a fragilidade humana.
Fazer todo esforço possível para diminuir o sofrimento: impedir, na medida do possível, o sofrimento dos inocentes; amenizar as dores; ajudar a superar os sofrimentos psíquicos. Todos estes são deveres tanto da justiça como da caridade, que se inserem nas exigências fundamentais da existência cristã e de cada vida verdadeiramente humana.
“A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. (nº 38). Sofrer com o outro, pelos outros; sofrer por amor da verdade e da justiça; sofrer por causa do amor e para se tornar uma pessoa que ama verdadeiramente: estes são elementos fundamentais de humanidade, o seu abandono destruiria o mesmo homem”, (nº39), afirma Bento XVI na carta encíclica Spe Salvi.
A vinda de Jesus ao mundo manifesta o seu desejo de estar próximo da humanidade, mas acima de tudo, veio fazer brilhar a dignidade humana e reacender a esperança.