A família e isolamento social

Voltemos à família, fiquemos em casa. O isolamento social, por causa da COVID-19 já nos trouxe alguns questionamentos, ligados à economia, à indústria, ao meio ambiente e à política. De fato, gostaria de nos perguntarmos qual o impacto sobre nossas famílias e sobre nossa vida de fé. Este tempo de confinamento obrigatório pode nos recordar um tempo muito desejado: os casais conviverem, os filhos sendo educados e amados. Faz-nos retornar ao princípio de toda a vida social: a família. Nós cremos na família, sabemos do seu valor insubstituível. Nenhuma instituição poderá superá-la ou realizar o que lhe compete. Quem pode amar como um pai ou uma mãe? Mesmo que alguém faça o papel de pai e mãe, como isto é muito comum, é difícil dizer que psicologicamente assume o lugar do pai humano.

Em primeiro lugar, a presença. Todos sabemos que presença é mais do que passar algum tempo. É conviver e conversar. Gastar o tempo com aqueles que Deus deu como presente. Eles são perfeitos? Possivelmente não. Mas é possível e necessário conversar a partir de uma compreensão de que eu não sou o centro, que há outra pessoa ou pessoas com as quais convivo. O passar dos anos, com os desafios próprios da convivência familiar, pedem um tipo diferente de postura, de amor que se reinventa. Mas será sempre o mesmo amor, abençoado por Deus, no dia do sacramento. Este tempo nos obrigou ao convívio, à presença.

A harmonia familiar transborda na vida gerada e educada. Cada criança que é gerada é um grande dom de Deus. Todos são importantes. Um filho será sempre muito amado por Deus e pelos pais. Ele é amado porque é filho. De fato, toda criança tem o direito de ter o amor do pai e da mãe. Ambos são necessários, pelas suas características, para a educação de um filho ou filha. Não somente pelo fato que o casal ame o filho, mas, bem importante, que o filho veja o amor dos pais entre si. De fato, os pais “mostram aos seus filhos o rosto materno e o rosto paterno do Senhor” (AL 172). A educação dos filhos é responsabilidade dos pais. A sociedade, com suas instituições, são suplementares, como a escola e a igreja. É aí na família que, no convívio com os pais, as crianças vão internalizando valores, a partir de atitudes que os pais realizam. Mais desafiadora é a fase da juventude na vida familiar. Contudo, é exatamente na família que os adolescentes e jovens confiam e esperam. Não deixemos de conversar com os jovens sobre sua vida e seus sonhos, tantas vezes iludidos pelas ondas do momento. Importante lhes mostrar um Deus que os ama e que sempre está com eles.

Não menos importante é a convivência familiar como um lugar por excelência da vida de oração. Na casa há um pequeno espaço para um “santuário doméstico”. Já se falou tanto disso. De fato é muito importante. Ele nos recorda, pela imagem, que aí mora uma família cristã. Desde que são crianças vão aprendendo que nossa vida é um dom, um grande dom de Deus. As imagens do Crucificado, da Virgem Maria, a foto da família, o rosário e a Sagrada Escritura formam os sinais visíveis de uma vida de fé que inicia aí, na vida familiar. Um pai e uma mãe sabem também falar de Deus, do seu jeito, recordando-lhes de que temos sempre um Deus Criador e seu Filho que sempre está conosco. Como não podem ir à igreja, recolhem-se para rezar em casa, a partir dos meios digitais.

Convivemos mais, amemo-nos mais, rezemos mais. Que oportunidade.

Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta