A juventude das vocações apostólicas

Jesus exercia uma grande atração sobre todos aqueles a quem Ele se aproximava.

O Evangelho de hoje (João 21,1-19) nos mostra a Jesus ressuscitado que reencontrou os apóstolos no Mar de Tiberíades. Foi um momento extraordinário, nele São Pedro teve a oportunidade de expressar todo o seu amor por Jesus, confirmado na sua missão de pastor da Igreja. Mas quem eram os apóstolos com quem o Ressuscitado Jesus viveu tão intimamente e afetuosamente? Sabemos disso pelos Evangelhos, e as leituras de hoje confirmam: eles eram principalmente pescadores e aparentemente jovens. Não só São João, que segundo a tradição era o mais jovem, mas todos os outros deveriam ter aproximadamente a idade de Jesus – ele tinha cerca de trinta anos quando começou sua vida pública.

Certas pinturas retratam os apóstolos como “muito solenes, barbudos, e quase sempre idosos.” Mas a realidade é bem diferente: nas estradas poeirentas da Palestina, os companheiros de Jesus estão na plenitude de suas vidas, muitos deles estão apenas saindo da juventude. Ler o Evangelho deixa perceber um sabor distinto, uma paixão, uma onda de alegria, uma vibração que só os jovens podem ter. Por que Jesus os chamou? É porque são pessoas fortes, generosas, sinceras, espontâneas, leais, inocentes, boas? Provavelmente por tudo isso, mas não totalmente… por quê então?

Há uma razão comum de fundo: porque Jesus quis (Marcos 3, 13-19). Mas não foi um capricho. O Evangelho de São Lucas nos diz que antes de escolher os Doze, Jesus “orou a Deus a noite toda” (Lucas 6:12). Então a razão principal é a livre decisão de Jesus, que veio do fundo do seu coração, não ao acaso, mas conforme o plano de salvar todos os homens. Pode-se até dizer que Deus pensou nessas pessoas desde tempos imemoriais, e agora é Cristo quem passou por suas vidas e lhes deu um novo significado que eles nunca imaginariam.

Os discípulos também não se decidiram por Jesus às pressas; não era hipnotismo, e não era algo “em suas cabeças”; eles estiveram com Jesus antes, eles ouviram sua voz, e algo muito forte aconteceu com eles em suas vidas. Aí “deixaram tudo e seguiram Jesus” (Lucas 5:11). Este seguimento de Jesus Cristo é, sem dúvida, um grande mistério. Mas isso pode ser parcialmente entendido pela atração que Jesus exerce sobre todos aqueles que estão perto dele. Esta passagem de Jesus não deixa ninguém indiferente, exceto os hipócritas ou aqueles que pensam que já sabem tudo.

Para esses homens e para tantos outros, esta passagem representa uma mudança fundamental, uma direção totalmente nova em suas vidas. Deixaram a rede, deixaram os planos anteriores. Desde então, sua vida tem sido uma coisa: seguir a Cristo e pregar o Evangelho. E a verdade é que apesar de terem sofrido muitas quedas e fracassos, pelo menos até a ressurreição do Senhor e a vinda do Espírito Santo, só restava uma pessoa importante em suas vidas e em seus caminhos. Procuraram ser fiéis e deram a vida por Cristo.

Dizia o Papa São João Paulo II: “a vocação é um mistério que o homem acolhe e vive no mais íntimo do seu ser. Depende da sua liberdade soberana, e escapa à nossa compreensão. Não temos que exigir-lhe explicações, dizer-lhe: ‘Porque me fazes isto?’ (cf. Romanos 9, 20; Jeremias 1, 6), visto que Aquele que chama é o dador de todos os bens”. Por isso, concluía o Santo Padre, “em face da sua chamada, adoramos o mistério, respondemos com amor à sua iniciativa de amor, e dizemos sim à vocação”. (Porto Alegre, Brasil).

Oremos a Deus para que, mesmo em nossa comunidade, mais cristãos, especialmente jovens como os apóstolos, aceitem o chamado de Jesus para eles e possam dedicar suas vidas a Ele como ministros sagrados.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen