A Linguagem como requisito de organização social em Tomás de Aquino

Gabriel Guilherme Frigo[1]

 

A linguagem é de extrema importância para os estudos da antropologia filosófica, visto que ela é constitutiva e própria do ser humano. Como falar do homem sem falar do modo como o homem fala, isto é, não conseguiremos compreender o ser humano sem compreender como este ser humano se comunica. A linguagem, sendo assim, é característica própria do ser humano, ao menos uma linguagem desenvolvida e complexa. Com isto não afirmamos que outros seres não se comuniquem com algum tipo de linguagem, mas que um tipo de linguagem desenvolvida e complexa é própria do ser humano, visto que, dentre todos os seres que, atualmente, conhecemos o único que possui fala e escrita desenvolvidas é o ser humano.

Segundo Mondin, qualquer problema filosófico e antropológico podem ser resolvidos com o auxílio da linguagem. “Não só a palavra nos permite falar de tudo, mas também achar uma explicação de tudo: dos problemas do subconsciente aos da estrutura da sociedade, dos problemas do conhecimento aos do ser, dos problemas da arte aos da cultura, da política, da história, da religião” (MONDIN, 1980, p. 134). Enfim, todos os problemas podem ser resolvidos partindo da linguagem, sob este ponto de vista ela não só é imprescindível para a antropologia filosófica como é um meio eficaz para a busca das respostas às questões postas pelas indagações do ser humano.

O próprio Tomás de Aquino ressaltou a importância da linguagem para a organização da vida social do ser humano. Para ele uma das diferenças entre as sociedades organizadas dos animais como, por exemplo, dos cupins, das formigas e das abelhas, reside no fato de que o ser humano organiza a sua comunidade não pelo instinto como estes animais, mas a organiza pelo uso da linguagem que o possibilita uma comunicação dialogal.

“É necessário ao homem viver em sociedade, para que um seja ajudado por outro e pesquisem nas diversas ciências, a saber, uns na medicina, outro nisto, aquele noutra coisa. Isto se patenteia com muita evidência no ser próprio do homem usar da linguagem, pela qual pode exprimir totalmente a outrem o seu conceito, enquanto os outros animais expressam mutuamente as suas emoções em geral, como o cão a ira pelo latido, e os mais animais as exprimem de diversos modos. É, pois, o homem mais comunicativo que qualquer outro animal gregário, como o grou, a formiga e a abelha” (De Regno, l. I, c. II, a. III).

Evidentemente, Tomás de Aquino, no trecho citado acima, não está a fazer um estudo aprofundado sobre a linguagem, mas percebe-se nele um germe do reconhecimento da importância da linguagem para a vida humana em sociedade. Sem a linguagem, pela qual exprimimos nossos conceitos sobre as coisas e sobre o mundo, não poderíamos nos comunicar. A falta de comunicação nos dispersaria e não seríamos animais deveras evoluídos. Em outras palavras, a racionalidade humana pode ser percebida pelo uso da linguagem comum. O dom, por assim dizer, da palavra nos dá uma certa vantagem em relação aos outros animais, por ele nos organizamos, evoluímos intelectualmente, nos comunicamos de maneira eficaz, expressamos nossos sentimentos e emoções, enfim tudo o mais que a linguagem nos possibilita.

 

Referências Bibliográficas:

 

MONDIN, Battista. O Homem quem ele é?: elementos de antropologia filosófica. São Paulo: Edições Paulinas, 1980.

TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. Organização de Rovílio Costa e Luis Alberto De Boni. 2. ed. Porto Alegre: EST, Sulina; Caxias do Sul: EDUCS, 1980.

_______. Suma Teológica. Coordenação Geral da Edição por Carlos Josaphat Pinto de Oliveira, OP. Introdução e notas: Thomas d’Aquin – Somme Théologique, Les Éditions du Cerf, Paris, 1984. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.

­_______. Do Governo dos Príncipes: ao Rei de Cipro. Tradução de Arlindo Veiga dos Santos. Prefácio de Leonardo Van Acker. 2. ed. São Paulo: Editora Anchieta S/A, 1946.

[1] Graduado em Filosofia pela Universidade em Caxias do Sul (UCS), com monografia sobre o pensamento político na obra de Tomás de Aquino, intitulado “Breves elucidações dos conceitos de Civitas e Lex no pensamento político de Tomás de Aquino. Atualmente é mestrando do PPG-Filosofia da mesma universidade, com bolsa CAPES, desenvolvendo uma pesquisa sobre os conceitos justo e justiça em Tomás de Aquino. Tem particular interesse em temas relacionados a filosofia e teologia medieval. E-mail: gabrielfrigo@live.com