A mais bela flor

Dom Hélio Adelar Rubert – Arcebispo de Santa Maria

O bosque parecia quase deserto, quando o homem sentou-se para ler, embaixo dos longos ramos de um velho carvalho. Estava desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois o mundo estava tentando afundá-lo.

E como se já não tivesse razões suficientes para arruinar o seu dia, um garoto chegou, ofegante, parou na sua frente e  disse cheio de alegria: “Veja o que encontrei”!

O homem olhou e percebeu que na sua mão havia uma flor. “Que visão lamentável!”, pensou consigo mesmo. A flor tinha as pétalas caídas e nenhum perfume.

Querendo ver-se livre do garoto e de sua flor, o homem fingiu pálido sorriso e se virou para o outro lado. Ao invés de recuar, o garoto sentou-se ao seu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa: “O cheiro é ótimo, e é bonita também… Por isso a peguei. Toma! É sua”.

A flor estava morrendo. O homem sabia que precisava pegá-la, ou o menino não sairia dali. Então estendeu a mão e disse um tanto contrafeito: “Era o que eu precisava.”

O garoto, ao invés de colocá-la na mão do homem, segurou-a no ar, sem qualquer razão. E, naquela hora, o homem notou que o garoto era cego e que não podia ver o que tinha nas mãos.

A voz lhe sumiu na garganta por alguns instantes… Lágrimas quentes rolaram do seu rosto enquanto ele agradecia, emocionado, por receber a melhor flor daquele jardim.

O garoto saiu saltitando, feliz, cheirando outra flor que tinha na mão, e sumiu no  jardim. Certamente iria consolar outros corações que, embora tenham a visão física, estão cegos para os verdadeiros valores da vida.

Agora o homem já não se sentia mais desanimado e os pensamentos lhe passavam na mente com serenidade. Pensava: “Como Deus é misericordioso… permitiu que um garoto, privado da visão física, me despertasse do lastimável estado depressivo!”

E o homem, finalmente, conseguira ver, através dos olhos de uma criança cega, que o problema não era o mundo, mas ele mesmo. Mergulhado em profundas reflexões, levou aquela feia flor ao nariz e sentiu a fragrância de uma rosa.

Verdadeiramente cego é todo aquele que não quer ver a realidade que o cerca. Tantas pessoas não percebem o mundo com os olhos físicos, nem penetram as maravilhas que os rodeiam e nem se extasiam com tanta beleza.

Que esta história possa nos ajudar nas dificuldades, na reflexão e oração!

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