A Mediação Universal de Maria

 

A Igreja aprovou, sob o pontificado de Bento XV, em 21 de janeiro de 1921, o Ofício e a Missa própria de Maria Medianeira de Todas as Graças. Desde então, cresceu entre os fiéis a devoção à Nossa Senhora Medianeira.

Todos sabemos, pela Sagrada Escritura, que somente Cristo é o perfeito Mediador entre Deus e a humanidade, mas, segundo Santo Tomás de Aquino, nada impede que existam entre Deus e os homens, abaixo de Cristo, mediadores secundários que cooperam para essa união em modo ministerial, isto é, favorecendo aos homens receber a influência do mediador principal ou transmitindo-a sempre na dependência dos méritos de Cristo.

Nesse sentido, de forma subordinada e dependente de Cristo, Maria é Medianeira Universal para a obtenção e a distribuição de todas as graças em geral e também particulares. Ela permanece, de fato, como criatura, sempre inferior a Deus e a Cristo, mas está elevada acima de todos os homens pela graça da maternidade divina. Se trata, portanto, de uma mediação subordinada e não coordenada àquela do Salvador, da qual depende inteiramente. Se trata de uma mediação não necessária, porque a de Jesus não depende de nenhum complemento, mas foi querida pela Divina Providência, como um reflexo da Mediação do Salvador, e entre todos os reflexos, o mais excelente. Enfim, trata-se de uma mediação perpétua que se estende a todos os seres humanos e todas as graças.

Desde o século IV, e sobretudo no V século, os Santos Padres afirmam com veemência que Maria intercede por nós, que todos os benefícios e auxílios para a salvação nos chegam por meio dela e por sua intervenção e sua especial proteção. A partir dessa época, ela é chamada Medianeira entre Deus e os homens, ou entre Cristo e nós. Santo André de Creta chama Maria Medianeira da Graça, dispensadora e causa da vida. São Germano de Constantinopla diz que ninguém é resgatado sem a cooperação da Mãe de Deus.

São João Damasceno confere a Maria o título de Medianeira e sustenta que dela recebemos todos os bens que recebemos de Jesus Cristo. Maria merece o nome de Medianeira Universal subordinada ao Salvador porque apresenta as orações dos seus filhos a Deus e obtém para eles os benefícios do seu Filho. Assim como o fruto de uma árvore é, de modos diversos, inteiramente de Deus autor da natureza, e inteiramente da árvore e do ramo que o produz, não há uma parte do fruto da árvore e outra do ramo. Assim Maria e Deus interagem entre si para a realização da Redenção.

A mediação de Maria supera àquela dos santos, porque somente ela nos deu o Salvador, somente ela esteve unida de coração de Mãe ao sacrifício da cruz, somente ela é a medianeira universal para toda a humanidade.

A cooperação de Maria na obra da salvação é evidente, porque ela foi a Mãe do Salvador. Sua fecundidade foi plenamente humana, ao mesmo tempo carnal e espiritual. A sua maternidade foi plenamente ativa desde a manjedoura até a cruz. E esta maternidade ela exerceu como um serviço: “eis a serva do Senhor” (Lc 1,38). Esse serviço é como um múnus, um verdadeiro ministério. Maria se colocou a serviço da redenção humana. Na ordem da graça, cooperar é sempre responder. Maria foi a primeira redimida, a primeira que foi salva, e junto aos que serão salvos é convidada a cooperar na obra da salvação. O ato redentor realizado pelo Verbo feito carne é evidentemente obra de um só: Cristo. Maria não compartilha em nada a obra da redenção, que somente Cristo pode realizar. Jesus é a fonte da graça, Maria a acolhe.

 

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3