A Medianeira e o Mediador
O Papa Francisco refletiu sobre o papel de Maria na redenção em 24 de março de 2021 destacando que Cristo é o Mediador, a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai . De fato, segundo o Apóstolo São Paulo, há somente um único mediador entre o céu e a terra, é Jesus Cristo, o Filho do Pai, o Verbo que se fez carne para nós e nossa salvação. Essa perfeita e singular mediação, contudo, não impede que existam outras referências que o cristão encontra para a sua oração e devoção, diz o Papa Francisco, e nesse sentido, ocupa primeiro lugar a Virgem Maria, Mãe de Jesus. Assim como ela participou de forma única na vida de Jesus desde o presépio até a cruz, ela participa de forma privilegiada da obra da redenção que somente ao Filho pertence, mas da qual ela é a primeira cooperadora.
O Papa usa uma imagem de Nossa Senhora muito querida pelos Orientais que é a Odigitria, aquela que indica o caminho. Ela aponta para seguirmos o caminho de seu Filho para alcançarmos a salvação que tanto desejamos. Diz Francisco: Ela indica o Mediador. Assim como fez na vida, sugerindo aos serventes das Bodas de Caná que deveriam fazer tudo o que Jesus dissesse, hoje ela repete para cada um que se aproxima dela: “fazei tudo o que ele disser”.
Mas função de cooperadora na única mediação de Cristo não recente, pois a mais antiga oração à Maria que se conhece, encontrada em papiros entre as areias do Egito, assim reza: Sub tuum praesidium confugimus, sancta Dei Genitrix. À Vossa proteção recorremos Mãe de Deus. Este poema oriental (tropário) mariano remonta aos séculos 3 e 4 da nossa era.
A catequese do Papa alerta, porém, que essa função intercessora de Maria deve ser bem compreendida. Nossa Senhora que, como Mãe a quem Jesus nos confiou, envolve todos nós; mas como Mãe, não como deusa, não como corredentora: como Mãe. É verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor.
Por isso, quando dizemos que Maria é a Medianeira da Graça e mais do que cheia de graças para distribuir, Maria é apropriadamente repleta da Graça de Deus. A Graça é o próprio Senhor que nela se fez carne e habitou entre nós.
Todos sabemos por experiência que a Virgem sempre nos acompanha na vida e na morte, como recorda o Papa Francisco: Maria está sempre presente à cabeceira dos seus filhos que deixam este mundo. Se alguém se encontra sozinho e abandonado, Ela é Mãe, está ali perto, tal como estava próxima do seu Filho quando todos o tinham abandonado.
E sobre a expressão “todas as graças”, pode-se dizer que Maria é a Mãe de todas as misericórdias, porque desde as origens do Cristianismo, os discípulos de Jesus sabem que quando a dor atinge o seu grau máximo, e o silêncio parece calar todas as forças, Maria acompanha o cristão para que não perca a fé, não deixe que lhe roubem a esperança e não se canse de amar. Com Maria, é preciso entender que o amor não é simples retribuição, mas é misericórdia.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3