A paciência de Deus

Dom Antônio Keller – Bispo de Frederico Westphalen 

As leituras de hoje chamam a atenção para este atributo de Deus: a paciência. Logo a primeira leitura, tirada do livro da Sabedoria (Sabedoria 12,13.16-19), fala-nos da atitude do Senhor em relação às Suas criaturas: “Vós julgais com brandura e governais com muita indulgência”. Apesar de ser Deus Todo-Poderoso, procede com brandura, pelo caminho da paciência, sabendo esperar o regresso daquele que prevaricou. Não é um Deus violento, que exerce vingança.

O salmista, no Salmo Responsorial (Salmo 85) canta a mesma experiência, reconhecendo que o Senhor é “clemente e bom, cheio de misericórdia para quantos O invocam… clemente e compassivo, lento para a ira, rico em piedade”.

O Evangelho (Mateus 13,24-43), por sua vez, mostra que o Deus paciente do Velho Testamento é também o da Nova Aliança. Ouvimos a parábola da boa semente e do joio.

Nestas parábolas Jesus dirige-se aos seus discípulos, preocupado com a necessidade de defendê-los da maléfica influência dos fariseus que se julgavam os «bons» em oposição aos outros que eram «maus». Ao responder que não se devia arrancar o joio antes da colheita, Jesus critica a «impaciência messiânica» dos discípulos e a nossa.

Muitas pessoas querem fazer da Igreja uma comunidade de puros e imaculados, quando ela é uma comunidade de pecadores em luta pela santidade. É preciso exercer a paciência, pois a vida aparece-nos sempre tecida de trigo e joio.

O dono responde: “não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo”. Muitos se escandalizam da paciência de Deus. O mundo de hoje não compreende esta linguagem. Diz: a paciência é covardia, a paciência é fraqueza. Não. É o contrário. Quem é paciente diante de quem o ofendeu, é mais forte que a ofensa. E este é exemplo dado pelo próprio Deus.

Que felicidade ser Deus tão paciente e não castigar o pecador no momento em que comete o pecado! Deus adia o castigo. Esta demora é para o bem do culpado e para proveito dos outros. Que seria do mundo se Deus não fosse tão paciente? Como se converteria o publicano Levi em São Mateus? Como se converteria aquela mulher pecadora em Santa Maria Madalena? Como se converteria o perseguidor Saulo em S. Paulo? Ou o pecador Aurélio em S. Agostinho?

Mais. Que seria de mim se Deus não fosse paciente comigo, onde estaria eu se Deus tivesse castigado imediatamente o meu primeiro pecado?

Deus é paciente. Também nós o devemos ser. Tudo me enerva e irrita? Mas será que já resolvi alguma dificuldade por estar impaciente e nervoso?

Só a paciência dá tranquilidade, confiança, consolação e alegria. Para isso é preciso lutar contra tudo o que me faz desanimar. Sejamos, pois, pacientes conosco, com a nossa vida, com os outros. Paciência conosco mesmo, sobretudo na doença. Na doença perdemos facilmente a paciência. Lembremo-nos que a impaciência ainda não curou ninguém. Paciência com o próximo, independentemente da idade, da condição social, da cor da pele, do credo religioso ou político. Paciência com todos, amigos ou inimigos.

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