A Palavra de Deus não é mera palavra

A Diocese de Uruguaiana, em seu Plano de Ação Evangelizadora, estabeleceu que, no ano de 2019, voltaria sua atenção para o processo de educação da fé a partir da Palavra de Deus.

Na década de 60, a Igreja católica, partindo de um encontro com bispos do mundo inteiro, chamado Concílio Vaticano II, iniciou um processo de redescoberta e centralidade da Palavra de Deus na vida dos fiéis, na liturgia, na ação pastoral da Igreja e no diálogo ecumênico.

A Palavra de Deus não é mera palavra. A Palavra é uma pessoa que fala e fala a outra pessoa. E, por ser pessoa, busca e estabelece uma relação. Foi a partir das Escrituras que Deus se fez conhecer. Uma experiência histórica de salvação, que se realizou ao longo de muitos séculos, e foi se cristalizando por escrito. A Bíblia reúne as palavras e sinais em seus 73 livros: Inicialmente isso se dá através de Israel em suas instituições!

Um dos documentos do Concílio, “Dei Verbum”, diz: “Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2,18; 2Pd 1,4)” (DV 2).

Deus fala de si mesmo! Não é alguém que dá notícias ou informações de outros. A Bíblia é a fixação desta fala de si mesmo da parte de Deus aos homens. Esta fala é um evento que se identifica pelos sinais! A Bíblia não é o que o homem pensa sobre quem Deus seja, mas é a auto revelação divina: Deus tem uma Palavra sobre si mesmo!

A Bíblia, assim, propicia para quem a lê, na fé e na confiança, a satisfação do desejo ‘natural’ de conhecer a Deus. Além disso, nesta ‘fala’, Deus nos dirige sua Palavra não como a estranhos e de forma misteriosa, mas na riqueza do seu amor, “fala aos homens como amigos” (Ex 33,11).

O Concílio Vaticano II, reinterpreta essa abertura de Deus para os homens do nosso tempo: “Passa-se, assim, de uma compreensão instrutiva a uma compreensão comunicativa da revelação. Em outros termos, entende-se, desde então, que a Palavra de Deus não se revela somente para instruir a respeito de realidades sobrenaturais ou doutrinais às quais a razão deve acolher, mas para comunicar a salvação na forma de um encontro” (CNBB, Doc. 97, n. 8). Deus quer encontrar-se conosco e convidar-nos a participar do seu Projeto. E Deus o faz através de seu Filho, Jesus Cristo, a expressão máxima dessa iniciativa.

Nós temos, “sem dúvida, uma Boa Notícia para anunciar ao mundo de hoje: a Palavra de Deus, Jesus Cristo, que está presente entre nós. Ele é mensagem de salvação e de vida. Com São Paulo, não queremos saber nem pregar outra coisa, a não ser Jesus Cristo, para nós sabedoria e poder de Deus (cf. 1Cor 2,2)” (CNBB, Doc. 97, n. 93).

Dom José Mário S. Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana