A Páscoa em tempo de pandemia

A crise da pandemia aguçou a atual crise social, econômica, ecológica e ética. Um vírus invisível desafia os avanços da ciência, os recursos tecnológicos, os sistemas de saúde; humilha todos os que cultivam a presunção de autossuficiência e prostra os que se julgam onipotentes por seu poder na esfera política e econômica.

Esta crise levanta também diversos questionamentos. O que é mesmo essencial em nossa existência? Temos consciências das outras ameaças permanentes à vida que matam muito mais? Qual o sentido de nossa vida, especialmente à luz da Campanha da Fraternidade que neste a tem por tema? Sentimos falta das celebrações litúrgicas de que não podemos agora participar presencialmente? Como será nossa vida pessoal, familiar, comunitária e social depois de superada esta situação?

Mas a pandemia abre muitas possibilidades e estimula a criatividade. Motiva muitas pessoas à solidariedade, com diversas inciativas de ajuda aos outros, especialmente aos mais vulneráveis. Ela reforça aspectos da visão cristã, a igualdade e a dignidade de cada pessoa, todos estão sujeitos ao vírus invisível, mesmo porque ele entrou no País pela classe média e alta; a fragilidade humana, seja física ou moral; a fraternidade e a solidariedade, fundamentais na convivência na Casa Comum.

Na atual crise, trabalhadores informais e sem trabalho passaram logo a sentir mais a falta de recursos para adquirir alimento. Além dos que sofrem pela fome, há os que padecem por terem familiares atingidos pelo vírus, muitos perdendo a vida em consequência dele.

Mas em todo sofrimento, na fé, há sempre a esperança pelo depois, com o problema superado e a vida fortalecida.

Pão, cruz e vida são três aspectos desta situação. Neles podemos ver também os remédios e os serviços de saúde; o aconchego familiar e a proximidade consoladora. Na experiência da dor, retomamos princípios e valores e refazemos relacionamentos.

Pão, cruz e vida são aspectos centrais do Tríduo Pascal. Na quinta-feira santa, ao celebrar a Ceia pascal da Antiga Aliança com seus apóstolos, Cristo nos dá o Pão da Vida e o Cálice da Salvação. Na sexta-feira santa, entregando sua vida na cruz pela humanidade, nos remiu do pecado e transformou o sofrimento em redenção. Na manhã do primeiro dia da semana, o terceiro de sua morte na cruz, ressuscitou, venceu a morte, renovou a vida, transmitiu a paz que o mundo não pode dar e deu aos apóstolos, que estavam de portas trancadas no lugar em que se encontravam, por medo dos judeus, o Espírito Santo, com o poder do perdão dos pecados.

Na sexta-feira santa deste ano, certamente, a cruz, na qual Cristo quis ser levantado para atrair-nos si, fez lembrar vivamente a dor da humanidade. Como disse o Papa na recente Bênção Urbi et Orbi extraordinária, “da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós”. Ele também nos convida a abraçar a Cruz de Cristo para “encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de onipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade”

No isolamento social em que nos encontramos, meio eficaz para não ampliar o contágio do vírus, não podendo comungar o Pão consagrado, façamos a comunhão espiritual e fortaleçamos a comunhão fraterna. Tenhamos a certeza de que Cristo Ressuscitado está a nos dizer: a paz esteja com vocês. Coragem, eu venci o mundo.

Pe. Antonio Valentini Neto – Administrador Diocesano de Erexim