A Rainha do Povo Gaúcho
Em 1942, após a grande enchente de 41, os bispos gaúchos, liderados por Dom João Becker, então arcebispo de Porto Alegre, consagraram o Rio Grande do Sul à Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, declarando-a Padroeira do Estado. Esse título, apesar de ser muito difundido, não foi oficialmente reconhecido porque São Pedro é o padroeiro desta terra que já foi denominada Província de São Pedro do Rio Grande.
A fé, contudo, sempre nos surpreende. Entre os desastres das chuvas do maio passado, há registros de estátuas, grutas e igrejas dedicadas à Nossa Senhora que se mantiveram intactas após as águas destruírem quase tudo. E muitas reportagens colhem depoimentos onde as pessoas mais atingidas dizem: “com fé em Deus, vamos recomeçar”!
Nesse contexto, na perspectiva de uma espiritualidade capaz de iluminar e aquecer a existência de quem tudo perdeu é que o Eterno, o Invisível, ou melhor, Deus, se manifesta como consolação, amparo e esperança.
Dentre estes sinais, o Rio Grande do Sul recebeu no dia 31 de maio passado, data litúrgica da Medianeira, um comunicado da Santa Sé, por meio do Dicastério do Culto Divino, com o Decreto de Consagração do Estado do Rio Grande do Sul à Virgem Maria, Medianeira de Todas as Graças, invocando-a como Rainha do Povo Gaúcho. O Decreto propõe a Coroação Pontifícia da imagem da Bem Aventurada Virgem Maria, Medianeira de Todas as Graças em seu santuário-basílica em Santa Maria .
Importa dizer que o título de Rainha para Maria não se equipara ao sentido dado nos regimes monárquicos que conhecemos no mundo. Ela é Rainha porque depende totalmente do Rei que é Jesus Cristo, Senhor do Reino de Deus, onde justiça e paz se abraçarão. Ela não têm súditos, mas filhos e filhas, ela não é servida a exemplo da realeza, mas é ela quem vai à frente para servir seu povo. Ela é consolo e esperança para quem enfrenta os revezes da vida. Sua condição de mulher humilde e profética da Palestina do século I, permanece como marca indelével na forma como as pessoas fazem a experiência de encontro com a mãe de Jesus. Sua coroa, na verdade é a humildade, a empatia e a caridade.
A coroação pontifícia, é o reconhecimento da Igreja sobre os sinais que revelam que Deus está do nosso lado nessa provação. Assim, entendemos como bem perto de Santa Maria, em Vale Vêneto, um grupo de fiéis, tendo passado pela grande enchente, edificou em 1942 uma gruta ao pé de um cerro. Em 2024 tudo foi destruído ao redor da gruta, inclusive toda edificação, apenas permanece de pé, intacta, em meio a tantos destroços, a imagem de Nossa Senhora . E por isso até hoje ecoa naqueles montes o que foi escrito em 1942 e colocado numa placa ao pé da santa: É promessa mãe querida, nestes montes sem suporte, onde o povo busca a vida, não permitas ache a morte”
No próximo 15 de agosto, Solenidade da Assunção e aniversário da Basílica, será coroada a imagem da Medianeira em sua Basílica, na cidade de Santa Maria, às 19 horas.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3