A revelação do amor de Deus

 

A criação é não apenas um reflexo da beleza e da grandeza de Deus, que sabemos serem infinitas, mas também uma expressão do amor que Ele dedica a cada ser humano. Tudo está a serviço dos homens, criados à imagem e semelhança de Deus, e estabelecidos como reis de toda a criação. Essa obra magnífica reflete o amor eterno de um Pai que ama com ternura todos e cada um de seus filhos.

O Amor eterno de Deus se manifesta ainda mais abundantemente na obra extraordinária da Redenção. O Verbo eterno, por nosso amor, fez-se homem para derramar seu Sangue em expiação dos nossos pecados e quis permanecer conosco na Santíssima Eucaristia até o fim dos tempos. Não há espaço para dúvidas: Ele nos ama e deseja nossa felicidade.

Apesar de nossos desejos humanos de felicidade coincidirem com os deste Pai bondoso, muitos seres humanos enfrentam situações de tristeza, como fome, ódio, guerras, doenças, solidão, inimizades e lágrimas. Como explicar e compreender tanto fracasso e contradição?

Todas as dificuldades, por maiores que sejam, são facilmente vencidas quando cada um puder afirmar com verdade: “O Senhor é o Pastor que me conduz: felicidade e todo o bem hão de me seguir”, como nos afirma o refrão do Salmo Responsorial (Salmo 23).

Para que esta afirmação corresponda à realidade, é necessário que cada um, livre e voluntariamente, aceite pertencer ao “rebanho” de Jesus, o verdadeiro Pastor. Este rebanho se caracteriza pela paz, alegria e amor. Trata-se de um reino onde o amor não se impõe, mas se vive. Só pertence a este reino quem verdadeiramente ama.

Cada um de nós deve ser como que porta-voz deste Pastor divino, que a todos quer bem e salvar. Só seremos porta-vozes enquanto existir verdadeiro amor em nossos corações. Agir de forma contrária ao amor dispersa e contribui para a perdição das ovelhas. Para tais comportamentos, a 1ª Leitura da Missa de hoje (Jeremias 23,1-6) traz duras palavras e severas advertências.

Muitos jovens e adultos estão desorientados na vida por não encontrarem quem lhes indique onde podem encontrar a felicidade que tanto desejam. São Paulo, na 2ª Leitura (Efésios 2,13-18), destaca que o povo de Israel sentia orgulho de ser um povo eleito por Deus e, como tal, mantinha-se isolado dos outros povos. Jesus veio derrubar todas as barreiras que os separavam para reuni-los em um único povo. Israelitas e pagãos foram chamados a viver unidos pelo verdadeiro amor. A nós, cristãos, compete hoje testemunhar esta amorosa unidade. Só assim seremos merecedores do nome de cristãos e, como tais, porta-vozes do verdadeiro Bom Pastor, construtores da felicidade que todos os homens tanto desejam.

O Evangelho deste Domingo (Marcos 6,30-34) nos conta como que, após o trabalho apostólico realizado pelos Apóstolos, Jesus convidou-os a descansar com Ele. Tal convite é mais uma manifestação do amor, atenção e carinho que Ele tem para com seus Apóstolos, revelando igual preocupação para conosco. “Vinde comigo descansar” é um convite amoroso que Ele também nos dirige. Esse descanso com Ele se concretiza na oração. Orar é verdadeiramente falar com Deus. Sem esses encontros e diálogos divinos, arrisca-se gastar energias em vão. “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15:5), nos previne o Senhor. Ele e só Ele pode tocar os corações dos homens. Somos meros instrumentos de Jesus na obra da evangelização. Como é importante ter esses momentos de descanso com o Senhor!

Pais e educadores só poderão desempenhar sua missão de “bons pastores” se primeiro falarem, através da oração, de seus educandos ao Senhor, que a todos ama e quer salvar. A desorientação que se verifica atualmente é provocada pela falta de educadores que saibam ser verdadeiros guias. A verdadeira “crise do mundo é crise de santos”, com a consequente falta de felicidade. O Papa Bento XVI afirmava: “não teremos justiça se não tivermos justos”. O mundo precisa de homens justos.

O tempo de oração não é tempo perdido, mas sim o mais bem aproveitado. Ele torna todo o trabalho do dia a dia mais frutífero e válido. É importante prestar atenção à oração individual e comunitária, especialmente à oração familiar e à participação na Eucaristia dominical. O Domingo, dia do Senhor, é por excelência, ocasião de encontro amoroso e de descanso com Ele. Em cada Domingo, devem-se renovar as forças para o bom desempenho da missão que o Senhor confiou a cada um.

 

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen