A semente que cresce
É característica do ser humano o olhar sempre para o futuro, com a expectativa da superação das dificuldades atuais. Para nós cristãos, a realização plena dessa esperança está nas mãos de Deus. E tantas vezes nos damos conta de que seus planos não coincidem com os nossos. Deus nunca se limita às nossas expectativas. Ele tem horizontes mais amplos para a nossa vida.
O desejo por uma vitória fácil e espetacular é uma das nossas tentações mais perigosas. Sonhamos que as obras de Deus nasçam já perfeitas, sem dificuldades de qualquer natureza. Ficamos perplexos, por exemplo, ao perceber que a Igreja enfrenta inúmeros obstáculos para cumprir a vontade divina e a sua missão na terra. Muitas vezes, imaginamos a Igreja dominadora, impondo seus critérios a todos. É difícil para nós apostarmos na liberdade das pessoas, pois acreditamos que, por oferecer algo bom, estamos prestando um serviço ao forçá-las a aceitar.
Preocupamo-nos com a diminuição de fiéis nos templos, mas não com o esvaziamento produzido pelo egoísmo, pela preguiça e pela falta de compromisso com Deus e com os irmãos em nossas vidas. Queremos mudanças espetaculares para melhor, sem esforço de nossa parte.
Os planos de Deus são muito diferentes dos nossos. Ele faz crescer seu Reino a partir de um pequeno rebento de fidelidade plantado em nossos corações. Nossa missão é fazer o bem e não nos preocuparmos excessivamente com os resultados.
Na 1a Leitura (Ezequiel 17,22-24), o profeta Ezequiel, durante o exílio na Babilônia, nos fala que Deus fará crescer uma árvore a partir de um ramo insignificante, onde as aves do céu encontrarão abrigo. Esta é a história da Igreja e das obras de Deus: cheias de dificuldades e aparentes retrocessos.
Muitas vezes sentimos que somos incapazes de progredir espiritualmente, percebendo até um retrocesso. Esse drama se repetiu na vida terrena de Jesus, que aparentemente terminou em um estrondoso fracasso na Cruz. Contudo, o que importa é que nunca percamos a confiança de que, nesta peregrinação terrena, o Senhor sempre nos acompanha e nos acompanhará até o fim de nossa vida, como nos ensina a 2a Leitura (2a Coríntios 5,6-10). Mesmo quando as coisas não saem como desejamos, devemos viver em contínua ação de graças, pois é Deus quem faz crescer seu Reino.
Para nos ajudar a compreender essas realidades, no Evangelho de hoje (Marcos 4,26-34), Jesus usa duas parábolas sobre o Reino de Deus. Ele compara o Reino a uma semente que, ao ser lançada à terra, parece inativa, mas traz dentro de si a força do crescimento. Quando a planta aparece, já muito aconteceu. Somos impacientes com as obras de Deus e com nossa vida interior, como crianças que esperam que uma semente plantada ontem já seja uma planta formosa hoje.
O lavrador tem paciência e esperança. Ele sonha com as colheitas, mesmo quando a terra parece estéril, e não desanima diante dos riscos. É a graça de Deus que nos faz crescer, como a semente que traz energia interna. A terra oferece condições, e devemos fazer o mesmo com a semente da santidade que Deus lançou em nós pelo Batismo.
Um adubo de fundamental importância para o crescimento da semente de Deus em nossa vida são os meios de formação, que cada Paróquia deve oferecer a seus participantes, para que todos possam abrir seus corações à semente da Graça. O mais importante é que a semente da Palavra de Deus seja lançada nos corações. A ignorância religiosa é hoje o maior obstáculo ao Reino de Deus. Colaboremos com os meios de formação ao nosso alcance, e Deus fará crescer, a partir do grão de mostarda, a planta da Igreja, que dará frutos de santidade, mesmo que tudo pareça sempre igual ou pior.
Tenhamos paciência com nossas limitações e defeitos, e com os dos outros. Não desanimemos perante os reais ou aparentes retrocessos das obras de Deus.
No primeiro dia de cada semana, o Domingo, o Senhor nos reúne para lançar em nossos corações a boa semente de sua Palavra. Ele fecunda o terreno de nosso coração com seu Corpo e Sangue, para podermos dar frutos abundantes. Temos a vocação de ser mensageiros da verdadeira Esperança.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen