A síndrome de Caim: Reflexões sobre a Fraternidade e a Sociedade Atual

 

A Campanha da Fraternidade deste ano convida a refletir sobre um tema crucial: a crescente agressão e ameaça presentes na vida, nas relações humanas e na sociedade em geral. O Papa Francisco, em sua visão global, alerta para o que chama de “terceira guerra mundial em pedaços”, destacando a prevalência da individualização, separação e divisão, que levam à desvalorização da vida humana e à “globalização da indiferença”.

Vivemos em um mundo onde as diferenças são vistas como inimizades e ameaças, levando a um distanciamento e, em casos extremos, a propostas e posturas de combate, destruição e morte. Esta realidade nos desafia a compreender que, para além de situações específicas, é fundamental olhar para os alicerces da mentalidade contemporânea, buscando entender todas essas situações em seu conjunto.

A ausência de fraternidade é evidente em diversas situações, como a corrupção, que busca apenas o ganho pessoal, deixando outros à margem e desprovidos do mínimo necessário para viver. Da mesma forma, o bullying, inicialmente visto como brincadeira, pode levar à humilhação e até mesmo ao suicídio, demonstrando uma falta de consideração pela vida alheia.

A Campanha da Fraternidade alerta para a presença de uma “síndrome de Caim”, uma situação transversal de divisão que permeia a sociedade contemporânea. Esta mentalidade, semelhante a uma praga nas plantações, se espalha sorrateiramente, deixando um rastro de devastação e morte.

O Papa Francisco destaca que, no mundo atual, os sentimentos de pertença à mesma humanidade estão enfraquecidos, levando a uma indiferença globalizada e a uma desilusão que nos faz esquecer que estamos todos no mesmo barco. A tentação do isolamento e do fechamento em si mesmos nunca será o caminho para a esperança e a renovação, mas sim a proximidade e a cultura do encontro.

Portanto, a reflexão proposta pela Campanha da Fraternidade é essencial para a sociedade contemporânea. É necessário buscar uma mudança de mentalidade, promovendo a fraternidade, a compaixão e a valorização da vida humana em todas as suas formas. Somente através do reconhecimento mútuo, do respeito e da busca pela reconciliação poderemos superar a “síndrome de Caim” e construir um mundo mais justo, pacífico e fraterno para todos.

A oração da CF nos ensina a pedir: Senhor, ajudai-nos, nesta Quaresma, a compreender o valor da amizade social e a viver a beleza da fraternidade humana aberta a todos, para além dos nossos gostos, afetos e preferências, num caminho de verdadeira penitência e conversão.

Inspirai-nos um renovado compromisso batismal com a construção de um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz, conforme a Boa-Nova do Evangelho.

Ensinai-nos a construir uma sociedade solidária, sem exclusão, indiferença, violência e guerras.

 

Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana