A Sinodalidade e o Clero

Estamos de volta com o tema da sinodalidade. Já sabemos que a Igreja pós-conciliar assumiu sempre mais um estilo sinodal, sobretudo a partir do Papa Francisco, quando afirma: “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (17/10/2015).

O termo sínodo ou sinodalidade vem de “Synodos” que, em grego, recebe o significado de “caminhar juntos” ou “fazer o caminho juntos”. Em sentido mais amplo, o caráter sinodal pertence à própria natureza da Igreja; como seu modo de ser e de viver. Para uma justa compreensão da sinodalidade, é importante retomar a eclesiologia do Concílio Vaticano II que apresenta a Igreja como sinal e instrumento de comunhão. Uma Igreja – “Povo de Deus” em que, pelo batismo, todos são chamados à santidade, na diversidade de vocações e ministérios, mas com igualdade quanto à dignidade e ação comum de todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo (cf. LG 32). Sinodalidade significa, pois, “fazer o caminho juntos”, como leigos, pastores, consagrados, todos e todas. Uma Igreja sinodal é dialógica; ela valoriza a escuta e o diálogo entre todos os seus membros, porque considera que todo o povo de Deus é protagonista da missão evangelizadora. O termo sinodalidade recebe especial sentido ao falarmos em Assembleia Diocesana, em Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, em Sínodo dos Bispos de 2023, ao qual o Papa Francisco deu início oficial, em Roma, nos dias 09 e 10 do presente mês e no dia 17 inicia o processo sinodal em cada uma das Igrejas particulares ou dioceses.

O sacerdote português Sérgio Leal, estudioso do tema, concedeu entrevista, publicada pela Vatican News (Rui Saraiva), em que afirma ser de fundamental importância a humildade no processo sinodal: “A escuta pressupõe a humildade de me perceber a caminho com outros. Uma Igreja da escuta, uma Igreja sinodal não me coloca acima do outro, mas a caminho com ele”. O espírito sinodal, portanto, consiste em sermos uma Igreja em que me reconheço “humildemente a caminho” e não seja autossuficiente, autorreferencial ou adote postura clérico-cêntrica: “Este clérico-centrismo que deve ser mudado e tem de ser a partir daqui. Isto é, a partir de bispos, presbíteros e ministros ordenados que pensam de modo novo o seu modo de ser e de estar”.

Em segundo lugar, numa igreja de espírito sinodal, em realizar caminho conjunto, o modo de ser pastor deve ter um caráter de proximidade e acompanhamento. Inspirando-se no Papa Francisco, o citado padre afirma: “Há aqui um modo de ser pastor, como aquele que vai à frente apontando o caminho, que vai no meio para sentir o povo de Deus e para entrar neste diálogo e escuta recíproca, mas que também vai atrás e que é capaz de acompanhar os últimos”.

Um terceiro elemento a cuidar na Igreja de espírito sinodal é a atenção para com todos, ou seja, caminhar com todos, não só com os organismos já constituídos e os mais próximos, mas também com outras realidades.

E, finalmente, o autor acena para a pluralidade e comunhão. Um processo sinodal oportuniza espaço para ouvir as diferentes vozes e opiniões. Dá lugar à pluralidade num caminho de comunhão, procurando consenso, com a participação de todos: “Isto deve desembocar num caminho de unidade… Esse consenso e comunhão… distingue-o do parlamento porque se trata de uma Igreja comunhão que não gera uma maioria, mas um consenso e comunhão com o contributo de todos”. Senhor, ensina-nos a caminhar juntos.

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul