A Transfiguração do Senhor

Estamos vivendo este tempo de Graça do Senhor, que é a Quaresma.

São dias especiais, nos quais somos conduzidos pelo Senhor amorosamente, em direção não somente para a celebração de mais uma Páscoa, mas para uma autêntica renovação de nossa vida como filhos de Deus.

O deserto quaresmal é antes de tudo uma experiência de Deus: um encontro com o Senhor que nos renova, nos transforma em novas criaturas. Todos os chamados “exercícios quaresmais”: a intensificação da oração, a penitência, a confissão sacramental, o jejum, a caridade fraterna, tudo, incrementado pela Graça de Deus, tem a finalidade de produzir em nossa vida uma autêntica transfiguração. Deus quer, nesta Quaresma, nos educar e nos transformar para sairmos da situação da desfiguração produzida pelo pecado e que nos transfiguremos à imagem de Cristo, nosso modelo e guia. A transfiguração em Cristo aqui neste mundo é, na verdade, um sinal da nossa total e definitiva transfiguração no céu.

A 1a Leitura deste Domingo é tirada do livro do Gênesis (Gênesis 15,5-12.17-18) e nos mostra a Aliança que Deus realiza com Abraão. Há uma proposta de Deus e a adesão incondicional de um homem. Abraão renuncia a confiar em si e em qualquer outra pessoa. Todas as suas certezas estão depositadas em Deus.

Na 2a Leitura (Filipenses 3,17-4,1) o Apóstolo São Paulo nos ensina que a Nova Aliança que Jesus vem nos trazer, se realiza a partir do Batismo. A fidelidade que devemos ter para com Deus deve se manifestar através da fidelidade aos compromissos batismais. E São Paulo se apresenta como modelo desta fidelidade. A autoridade de São Paulo em fazer esta afirmação, fundamenta-se no fato de que ele está aprisionado, devido a sua fidelidade a Cristo e à sua Palavra. O Apóstolo nos alerta em relação àqueles cristãos que vivem como se fossem inimigos de Cristo, já que relaxaram em sua fé e se comportam sem considerar a Palavra de Cristo. Estes, estão destinados à perdição eterna.

É sob este prisma que devemos escutar o Evangelho de hoje (Lucas 9,28-36). A transfiguração do Senhor é um sinal daquela glória que Ele terá após sua Paixão, Morte e Ressurreição. Na verdade, a visão do Senhor transfigurado não abarca toda a glória que o Senhor, na sua humanidade, tem no céu, junto ao trono de Deus.

Da mesma forma, nosso olhar ao Senhor transfigurado nos leva a compreender qual o futuro que nos espera, junto a Deus. A transfiguração de Jesus revela muito de quem é Jesus e também muito de quem nós seremos, junto a Deus, na vida eterna.

A Eucaristia que recebemos na Celebração dominical, se a recebemos bem-dispostos, produz este efeito de ir pouco a pouco nos transfigurando, apagando em nós as marcas do pecado desfigurador.

Nesta Quaresma, queridos irmãos, busquemos através da vivência dos exercícios quaresmais esta plena identificação com o Cristo transfigurado.

A Educação, tema deste ano da Campanha da Fraternidade, produz este maravilhoso efeito, quando é assumida de forma responsável e coerente: ela produz homens transfigurados, capazes também de servir e ajudar aos irmãos a saírem da desfiguração produzida pela ignorância, que destrói a imagem de Deus, gravada em nós na criação.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen