A verdade liberta!
Após um século de rápidas transformações, estamos experimentando uma mudança de época. São tempos novos nos quais se constatam avanços e conquistas no mundo da ciência e da técnica, que deveriam promover melhores condições de vida, conforto e bem-estar para o maior número possível de pessoas.
A pandemia do novo coronavírus, que está deixando atrás de si um lastro de dor e de morte, afetou de forma contundente os critérios de compreensão e os valores fundamentais a partir dos quais se estabelecia ações e promovia relações sociais, econômicas, políticas e também religiosas. A tragédia sanitária da COVID-19 acelerou a necessidade urgente de rever a forma de conduzir a economia, de promover a vida em sociedade e cuidar da Casa Comum.
Entretanto, em meio a tensões e expectativas, o que virá já começa a preocupar.
O dilema que se impôs, segundo o qual ou se priorizava o combate à pandemia, ou se priorizava o crescimento econômico e os empregos, não se mostrou verdadeiro: a crise sanitária e a crise econômica estão fundamentalmente relacionadas. A falta de compreensão deste falso paradigma por parte de setores políticos, econômicos e empresariais continua produzindo desemprego, desigualdade, fome, miséria, desesperança e morte.
Constatam-se atitudes de desrespeito pelo povo, compreensões econômicas que não consideram a pessoa humana e o direito natural à vida digna, a irracionalidade de expressões da cultura midiática, ideologias que desejam impor a todos noções confusas sobre sexualidade humana, família e matrimônio.
O pensamento e a ousadia intelectual tornaram-se insuportáveis para muitas pessoas, atingindo inclusive instituições; e isso causa, no mínimo, preocupação. A ignorância, o ódio à inteligência, ao conhecimento, à ciência, ao discernimento e a falta de bom senso está pautando comportamentos e realizações em setores da vida em sociedade. Quando se busca exercer o poder manipulando o campo do saber ao bel prazer, então se faz necessário coragem para promover a verdade que liberta – dever de todos que anseiam por tempos melhores.
Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB