A vida nos biomas brasileiros
Dom José Gislon – Bispo Diocesano de Erexim
A Quaresma é tempo oportuno para cada cristão refletir sobre sua vida de comunhão com Deus, os irmãos e a criação, à luz da Palavra de Deus. Podemos ser tentados a viver uma espiritualidade ou pseudo-espiritualidade, desencarnada da realidade da vida e do mundo que está ao nosso redor; uma espiritualidade da indiferença, marcada pelo egoísmo, sem uma comunhão de vida com os irmãos e toda a obra do Criador. Ela pode ser praticada para aliviar a nossa consciência, por termos realizado um rito, mas não é geradora de comunhão, nem expressa o amor, a compaixão, a ternura e a misericórdia do Pai.
A Igreja católica no Brasil vem abordando, por mais de cinqüenta anos, através da Campanha da Fraternidade, temas relevantes da nossa realidade brasileira. Não são temas escolhidos aleatoriamente, mas que refletem a dura realidade em que vive o nosso povo, em condições muitas vezes sub-humanas, nos seis biomas que cobrem o nosso território nacional.
Vida e natureza caminham juntas. É possível “cultivar e guardar a criação”, em defesa da vida, que está ao nosso redor, nos nossos ricos e diversificados biomas, percorrendo um caminho de conversão entendido à luz da Palavra de Deus. A conversão precisa chegar até o nosso coração, tocar e mudar a nossa vida, as nossas ações em defesa da vida e da criação, na qual muitas vezes vemos sinais de morte, que ameaçam a vida presente nas diversas regiões do nosso País.
O progresso que traz bem estar é algo desejado e esperado por todas as realidades. Mas o progresso do bem estar econômico, que pouco se importa com a dignidade de vida das pessoas e do cuidado do meio ambiente, mais do que esperança de vida, reflete sinais de morte para todos. O Papa Bento XVI, na homilia do início do seu ministério petrino, disse que: “os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos”. A defesa da vida, da ecologia do mundo em que vivemos foi retomada pelo Papa Francisco. Na encíclica Laudato Si, ele salienta que “a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa”.