Abrir o coração à misericórdia
Todos os que se sentem vítimas da injustiça correm sempre o risco de responderem com a vingança e com o ódio.
No Antigo Testamento, através da famosa lei «olho por olho, dente por dente» (Êxodo 21, 24), já aparece uma indicação de proporcionalidade na resposta às ofensas e males recebidos de alguém. Não se deve exceder frente ao mal recebido. Deve-se responder de forma equilibrada, sem exageros de vingança.
O Livro do Levítico vai mais adiante, ensinando: «Não te vingarás nem guardarás rancor aos filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Levítico 19, 18). É nesta direção, que vai o texto da 1a Leitura deste Domingo, do Livro do Eclesiástico (Eclesiástico 27,33-28,9). O texto ensina necessário ir além da simples justiça e abrir o coração à misericórdia. O perdão ao irmão é indispensável para se obter o perdão de Deus.
Também, nesta direção, a 2a Leitura de hoje, da Carta de Paulo aos Romanos, nos ajuda a aprofundar ainda mais este tema, ensinando-nos que o cristão deve ter sempre presente que não vive para si, para o seu egoísmo, mas para o Senhor e para os irmãos.
O Evangelho deste Domingo (Mateus 8,21-35) também nos propõe o tema do perdão, nos ensinando que o amor de Deus não tem limites. Os rabinos, os guias espirituais de Israel, condenavam a vingança, a ira, o rancor e exigiam a reconciliação, mas restrita entre o povo de Israel. Jamais admitiam estas atitudes em relação aos demais, aos chamados infiéis. E mesmo entre os israelitas, discutiam o número de vezes que se devia perdoar. Todos estavam de acordo que o limite seria a quarta vez. Dai em diante devia existir a punição. Pedro quer saber o que Jesus pensa sobre o assunto e Jesus respondeu-lhe: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete», isto é, sempre. E para melhor esclarecer o pensamento, conta a parábola dos “dois devedores”. Jesus, com esta parábola, quer nos ensinar a enorme distância que existe entre o coração de Deus e o coração dos homens. Não há nenhum pecado que Ele não perdoe. A par da misericórdia de Deus existe a mesquinhez do coração humano, que não sabe perdoar. O perdão de Deus não consiste numa esponja que apaga o acontecido. Isto não é perdão. O pecado é uma realidade séria, é uma destruição que atinge o íntimo da pessoa, que deve ser reparada. Deus manifesta a sua misericórdia e realiza o seu perdão quando transforma o ser humano e o conduz à conversão e quando o faz passar do egoísmo ao amor efetivo. Como cristãos, ainda arriscando sermos considerados idiotas, porque perdoamos sempre, entendemos que devemos não só perdoar, mas também darmos o primeiro passo da reconciliação.
A parábola se encerra com um gesto do Senhor, onde Deus aparece como vingativo. Mas não. É o “estilo” do tempo em que a parábola foi composta.
O amor de nosso Pai do Céu não tem limites.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen