Abrir portas, não erguer muros ou fechar fronteiras
Desde o início de seu pontificado, Francisco foi colocando no centro da Igreja e da sociedade diversas realidades da exclusão, como os migrantes e refugiados, o tráfico de pessoas, o abuso de menores e pessoas vulneráveis, bem como desafios inadiáveis, entre os quais o cuidado com a Casa Comum, novas formas de economia, o cuidado com os pobres e outros.
Já no início do quarto mês de sua eleição, em julho de 2013, visitou a Ilha de Lampedusa, no sul da Itália, para a qual se dirigem inúmeros emigrantes fugindo da guerra, da fome em consequência de catástrofes, em busca de sobrevivência na Europa, muitos dos quais acabam morrendo náufragos de barcos impróprios e superlotados. Iniciou a homilia da missa que lá presidiu, lembrando manchetes de noticiários que registravam as numerosas mortes em alto mar. Ressaltou que estava lá para cumprir dever de solidariedade e despertar as consciências a fim de que tais acontecimentos não se repetissem. A partir da pergunta de Deus a Caim, “onde está teu irmão?”, perguntou quem se sentia responsável por tantas mortes e quem por elas havia chorado. Denunciou a globalização da indiferença diante daquele e de outros dramas humanos.
Em muitas outras oportunidades exortou famílias, comunidades e países a abrir as portas para migrantes e refugiados, ao invés de fechá-las, ou pior ainda, erguer muros. A seu pedido, o Vaticano acolheu famílias migrantes. Seu esmoleiro, organiza acolhimento a moradores de rua de Roma proporcionando-lhes diversos serviços.
Na mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado do ano passado, Francisco observou que não se trata apenas de migrantes, mas de nossa própria humanidade. Na de 2018, recordou que repetidas vezes manifestou “especial preocupação pela triste situação de tantos migrantes e refugiados que fogem das guerras, das perseguições, dos desastres naturais e da pobreza”. Reafirmou que a resposta comum a este desafio “poderia articular-se à volta de quatro verbos fundados sobre os princípios da doutrina da Igreja: acolher, proteger, promover e integrar”
Neste domingo, iniciamos a 35ª Semana Nacional do Migrante, cujo tema é “Migração e Acolhida” e o lema “Onde está teu irmão, tua irmã?” Conforme o texto de fundamentação, está em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano sobre o cuidado com a vida e no contexto de “um modelo econômico excludente, que explora, trafica pessoas e escraviza o ser humano na sua integralidade”.
O texto ressalta que é fundamental nesta semana pensar o outro na dimensão evangélica, na espiritualidade encarnada e vivenciada nas experiências de acolhida, proteção, promoção e integração do migrante e refugiado. O Papa Francisco intitula sua mensagem para o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados deste ano, o 106º, “Forçados, como Jesus Cristo, a fugir. Acolher, proteger, promover e integrar os deslocados internos”, que são milhões. Lembra que na sua fuga para o Egito, o menino Jesus experimenta, juntamente com seus pais, a dramática condição de deslocado e refugiado marcada por medo, incerteza e dificuldades. Conclui sua mensagem com uma oração inspirada em São José, pedindo a Deus, por intercessão dele, conforto e proteção para todos os irmãos e irmãs que, forçados por guerras, pobreza e carências, deixam a sua casa e a sua terra a fim de se lançarem ao caminho como refugiados rumo a lugares mais seguros; tenham força para prosseguir, conforto na tristeza, coragem na provação; aos que os recebem, dê um pouco da ternura deste pai justo e sábio; àqueles a quem a vida tudo levou, a dignidade dum trabalho e a serenidade duma casa.
Pe. Antonio Valentini Neto – Administrador Diocesano de Erexim