Acolher para integrar
Estimados irmãos e irmãs! Viver e celebrar a fé, a partir da realidade da vida, é abrir o coração e colocar diante do Senhor os acontecimentos que tocam e dão sentido à vida, dom de Deus. Acontecimentos que nos fazem sorrir ou chorar, mas são eles que marcam a nossa peregrinação neste mundo, e nos ajudam a construir a nossa história, nas relações com o Senhor, com os amigos, com a comunidade, com o meio ambiente, a nossa Casa Comum.
O ser humano traz dentro de si uma enorme capacidade de adaptação, e graças a ela consegue superar os traumas de ter que se deslocar pelo mundo em busca de melhores condições de vida. Às vezes, parte para fugir da violência, para proteger a sua vida e dos seus. Mas pode também ser motivado a partir por uma questão de sobrevivência, pelas injustiças sociais, pelo descaso dos governos, que muitas vezes não favorecem políticas públicas para ajudar no desenvolvimento econômico das regiões mais empobrecidas.
Não podemos ignorar a realidade dos jovens que, diante da falta de oportunidades onde vivem, fazem o sacrifício de partir, deixando para trás suas famílias, amigos e comunidades. Tornam-se itinerantes pelo mundo, em busca de trabalho e dignidade de vida. Como Igreja, comunidade fé, trazemos diante de Deus a realidade da nossa vida e da vida dos migrantes. Se olharmos para o passado das nossas famílias, conseguiremos acolher com caridade o migrante que está presente na realidade da nossa sociedade hoje. Quantos sonhos, angústias, tristezas e lágrimas irrigaram a terra a ser desbravada pelos nossos antepassados! Quanta esperança de um novo amanhã jamais alcançado. Mesmo assim, não desistiram; mesmo porque a opção de voltar atrás praticamente não existia. Foi com a força da fé, vivida e celebrada em família e na comunidade, o suor do rosto e o cansaço do corpo, que conseguiram vencer e resistir, diante dos desafios de se adaptarem a uma nova realidade climática, cultural e social.
No centro da celebração da Palavra de Deus deste domingo está uma pergunta fundamental, que Jesus dirige aos seus apóstolos e a todos nós: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9,20). É um convite para refletirmos, pensarmos e respondermos. Da resposta que damos a esta pergunta, na verdade damos o tom da nossa vida cristã. Para nós, ser cristão pode ser classificado como um costume que levamos adiante, uma tradição familiar, na qual nunca pensamos muito, uma segurança contra os imprevistos que poderão existir depois da morte, e dos quais temos medo, ou um encontro pessoal com a pessoa de Jesus Cristo, o Filho do Deus altíssimo.
+ Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul