Advento – Aprender a Esperar

Somos herdeiros da fé abraâmica, que confiou e acreditou contra toda desesperança de suas condições. Deus chamou Abraão e ele acolheu o apelo divino. O sinal do seu consentimento foi sair de sua terra, de Ur na Caldeia, e ir em direção à terra que o Senhor indicara. A promessa era de ser pai de uma grande nação, que teria nele a bênção como herança para todas as famílias da terra. A fé de Abraão se traduziu como crédito de justiça, pois ele partiu, mesmo sem saber para onde iria e como seria seu futuro. Ele deu fiança a Aquele que o chamava. Ele acolheu a graça e, por isso, saiu, mesmo sendo idoso e sem qualquer expectativa ou garantia de um futuro feliz.

A condição abraâmica é parábola e metáfora da nossa condição humana. Vivemos neste mundo, no tempo e no espaço que nos é concedido existir. Temos alegrias e tristezas, realizações e frustrações. Vivemos entre momentos muitos felizes e instantes de grande decepção. Entre luzes e sombras percebemos que é preciso ir além da aparência deste mundo que passa.

A vida, para ter sentido, precisa de uma orientação que está além da alternância dos dias e das noites. Muitos não entendem esse princípio da impermanência de tudo o que existe e, por isso, reagem. Alguns se alienam numa vida fechada e marcada por superficialidades, consumismo e apatia em relação ao que os cerca. Vivem só o presente. Outros se cansam dessa vida, pensam nela como um vazio de sentido e se deprimem. Têm saudades exageradas do passado e vivem de um tempo que passou. Entre a presunção e o desespero, somos movidos pela esperança.

Entre as coisas que passam, somos chamados a abraçar aquelas que são eternas. Vivemos neste mundo aqui e agora, mas somos cidadãos do Reino dos Céus, onde Deus nos espera numa eternidade feliz. Como Abraão, é preciso caminhar, ir em direção ao futuro que Deus promete sem deixar claro como será. Apenas sabemos que é obra Daquele que é fiel ao que promete. Somos filhos da promessa, quem crer verá.

Quem aguarda essa manifestação da plenitude do nosso ser, num futuro que só a Deus pertence, sente que as forças podem se acabar, que o andar pode ralentar, que a vida pode perder seu vigor, mas jamais perde a esperança de entrar no Reino de Deus, morada eterna, nossa pátria, casa da Trindade Santíssima.

Igualmente, Maria é herdeira desse provo da promessa. Nela, essa aliança se estende a toda a humanidade. Desde Abraão, muitas gerações se passaram até chegar Jesus, o filho da Virgem. Homens e mulheres em diversos contextos de Israel conservaram acesa a chama da esperança de realização da promessa. Quando nasce do Filho de Maria, se realizam todas as profecias, o Reino é inaugurado, a eternidade entra no tempo, a esperança se faz carne e habita entre nós.

Atualmente, podemos esquecer desse horizonte futuro e ficarmos presos nas armadilhas do tempo e da realidade que nos cerca. Perdemos um pouco a capacidade sonhar, esperar e acreditar que somente em Deus dias melhores virão. O ser humano está tão fascinado pelas novas tecnologias que se torna apático para a condição de finitude alheia, e, não raras vezes, até do próprio fim. Parece que não desejamos mais viver eternamente. Nesse embuste pós-moderno, caminhamos de um lado para o outro, e até a fé fica reduzida a uma busca de solução para problemas imediatos.

Crer é seguir Jesus Cristo. Seguimento supõe caminho. Só caminha quem se dispõe a sair de onde está e se colocar na estrada, que nem sempre é luminosa e linear. Caminhar é preciso, de esperança em esperança.  Todas essas promessas se realizam com a consumação do tempo e do espaço, quando nossa vida será transfigurada em Deus.

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria