Advento: Esperar o Futuro

A experiência do presente contém um grande significado para a vida humana e, portanto, para os que creem também. Muita gente, porém, quer viver o presente da melhor forma, não quer esperar um futuro melhor, precisa aproveitar o momento. O ideal de viver a vida aqui e agora é maior do que qualquer outra causa.

O advento remete a um futuro que vem e nos surpreende. Em Jesus encontra-se o libertador de Deus, o Evangelho encarnado do Deus próximo e da libertação humana. A salvação implica em experiência no tempo que aponta para a eternidade. A cura de um doente, a expulsão dos demônios, o perdão dos pecados e a tempestade acalmada são indícios do futuro Reino de Deus que chegara entre os contemporâneos de Jesus. A missão da libertação inicia naquele “hoje” onde se realiza a Escritura (cf. Lc 4, 21). A festa com Jesus já iniciou para todos os tempos e em todos os lugares, é a festa da liberdade, promovida pelo Deus que veio na Encarnação e virá em sua Parusia. Essa vinda gloriosa de Cristo é preparada também no Advento. Mas quantos cristãos, de fato, anseiam por essa surpresa?

Essa festa, entretanto, não pode ser apenas um projeto ideal ou um sonho longínquo. O mundo do trabalho e as exigências de produção com resultados imediatos impedem muitos de vivê-la. O imediatismo e a correria esterilizam as relações do ser humano com o mundo.  A vida é regulamentada a partir de critérios que desumanizam e artificializam o ser. Muitas vezes, nem mesmo as celebrações litúrgicas conseguem devolver o sentido de alegria e liberdade do Deus que espera seus filhos num Domingo que não conhece ocaso.

Para muitos, o tempo está privado de significado. Há quem faça férias para melhor trabalhar. Há quem pense que o domingo é a pausa necessária para enfrentar mais uma semana. Perde-se o sentido de saborear o tempo livre, que nos exercita para um futuro em que não haverá mais segunda-feira e nem trabalho, apenas o convívio feliz da criatura com o Criador. A alegria da Ressurreição do Cristo, que promete uma vida plena, deve permear o mundo escravo e triste, para tornar o culto divino um intermediário messiânico na estrada para a festa sem fim. Entre o “já” e o “ainda não”, é tempo de viver o presente sem esquecer-se do futuro.

Não estamos apenas preparando mais um Natal e as festas de final de ano. Estamos aguardando o Deus feito criança, que sempre vem para nos despertar do sono e da anestesia do tempo, apontando para uma eternidade que permeia no hoje um amanhã feliz.

O desejo de felicidade é marca fundamental da vida humana. Essa tendência, contudo, não garante, em si, a felicidade. Muitas vezes, o sentimento de felicidade é resultado de uma surpresa, de uma ruptura com a experiência cotidiana que supera todo o desejo e todas as aspirações. A felicidade, portanto, não se comporta apenas de acordo com o desejado e o esperado. Na sua indisponibilidade, a felicidade supera o nosso desejo de felicidade.

Advento é chegada, visita, encontro que surpreende. Que este tempo privilegiado que antecipa o Natal nos torne mais profundos, mais solidários e esperançosos de uma felicidade plena que Deus preparou para os que o amam.

 Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3