Amor ilimitado
A Páscoa ensina a impossibilidade de se colocar um limite ao amor. De fato, o “amor é mais forte que a morte” (Ct 8,6).
Deus ama sem distinção, precondições, imposições ou limites. Ele “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).
A medida de Deus não é a justiça ou o ideal de perfeição, mas o amor sem reservas. Por isso, Jesus ensina que “se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 5,20).
Deus na sua infinita bondade e misericórdia não calcula, soma ou divide! Por ser amor e misericórdia, Ele esbanja bondade e jovialidade. Deus ama! O amor, a benignidade e a misericórdia apontam para o ser de Deus.
O ser humano, diante do ser de Deus e do dom de crer, responde com gratidão e generosidade ao amor e à misericórdia. Afinal Deus deixa no ser humano traços de sua identidade.
“Amor e misericórdia unem o ser humano e Deus, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado” (Papa Francisco).
Amor e misericórdia habitam o coração de cada pessoa quando se deixa atingir pelo mistério de Deus que ama sem reservas e vê com olhos sinceros o semelhante que vai encontrando pelas estradas da vida.
A misericórdia, atributo de Deus, é a caridade operativa e efetiva Dele. Jesus é expressão da misericórdia do Pai e por isso a indica como caminho de vida para os discípulos: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).
A própria conduta de Jesus não é só exemplo, mas também norma de ação. Ele se curvou sobre toda forma de fragilidade humana, demonstrando compreensão e misericórdia. Por isso, a caridade do discípulo tem a marca da misericórdia, que revela não somente bondade, mas se mostra também como auxílio concreto aos necessitados.
O discípulo de Jesus Cristo é chamado a renovar em si a certeza de que “não se pode separar a verdade a respeito de Deus que salva, de Deus que é fonte de toda a dádiva, da manifestação do seu amor preferencial pelos pobres e pelos humildes” (S. João Paulo II), como expressam as palavras e obras do próprio Jesus.
O discípulo do Crucificado-Ressuscitado está “pronto para qualquer boa obra” (Tt 3,1), pois consciente de ter sido salvo não pela sua obra, mas pela misericórdia de Deus, se empenha para cultivar o modo de ser e de agir de seu Senhor e Mestre.
Assim, é possível compreender porque a Igreja, desde sempre, recomenda a solidariedade – sinônimo de amor e misericórdia – como caminho para superar toda forma de discriminação, de polarizações e de fundamentalismos. Somente a solidariedade é capaz de garantir o bem comum, auxiliando o desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade: a misericórdia, o amor “faz ver no próximo um outro tu mesmo” (S. João Crisóstomo)