Aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola

A solenidade de “Todos os Santos” é celebrada no dia 1º de novembro e no dia seguinte acontece a “Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos”. São duas celebrações próximas que oferecem uma oportunidade para meditar sobre o sentido da vida eterna e sobre a morte.

A vida eterna é um tema que interessa? Buscar a santidade é projeto que encanta? O prefácio da missa de “Todos os Santos” assim reza: “Festejamos, hoje, a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos, os santos, vos cercam e cantam eternamente vosso louvor. Para essa cidade caminhamos, pressurosos, peregrinado na penumbra da fé. Contemplamos, alegres, na vossa luz, tantos membros da Igreja, que nos dais como exemplo e intercessão”.

A solenidade não se refere a um grupo restrito de eleitos, ou somente aos reconhecidos formalmente como santos. Mas indica para aquela “multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Apocalipse 7,9). Chegaram na presença de Deus porque procuraram cumprir com amor e fidelidade a vontade divina.

Mas para que serve o nosso louvor aos santos? Eles não precisam mais de nós, pois já estão na presença eterna de Deus e o contemplam face a face. A solenidade de “Todos os Santos” é necessária para os peregrinos deste mundo para fazer arder neles o desejo de viver na intimidade com Deus. O caminho da santidade não se caracteriza em realizar obras extraordinárias, nem possuir dons e carismas excepcionais. Mas é sobretudo, ouvir Jesus e segui-lo sem desanimar nas dificuldades. Jesus convidou os discípulos a confiarem nele, a renunciarem a si mesmos, em tomarem a cruz, em serem generosos que nem a semente que morre para gerar mais vida, em viverem amando. Todo o caminho da santidade tem a marca da cruz que conduz à glória.

No Dia de Finados o nosso olhar se dirige ao rosto daqueles que nos precederam e que concluíram o caminho terreno. O prefácio da missa do dia reza: “E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola”. Este é o modo cristão de vivenciar Finados, pois é dia de olhar para o Cristo ressuscitado e renovar a fé na vida eterna. Viver o dia num misto de tristeza e esperança.

Visitar o cemitério para rezar pelas pessoas queridas que nos deixaram, é quase como que fazer uma visita a elas para manifestar, mais uma vez, o nosso carinho, para as sentir próximas, recordar vivências, e expressar cuidado. A visita é uma forma de conservar a experiência de suas vidas. Um artigo do credo cristão professa a “comunhão dos santos”, isto é, o vínculo estreito dos que peregrinam nesta terra e os irmãos que já alcançaram a eternidade. Vínculo que a morte não rompeu.

Finados coloca o tema quase proibido da morte. Temos dificuldade de abordá-lo, mesmo que a morte faça parte do cotidiano. Se por um lado os cemitérios apontam para fim da jornada terrena, são também espaços que revelam esperanças como indicam as inscrições dos túmulos.

A Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos nos dizem que somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também levar uma vida a partir da esperança. Visitando os cemitérios para rezar com afeto e com amor pelos nossos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem a fé na vida eterna. É precisamente a fé na vida eterna que confere ao cristão a coragem de amar ainda mais intensamente esta nossa terra e de trabalhar para lhe construir um futuro, para lhe dar uma esperança verdadeira e segura.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo