As bodas de Caná
O Evangelho deste Domingo (João 2,1-11) nos mostra Jesus em uma festa de casamento, acompanhado por seus discípulos. Nossa Senhora também lá estava. Segundo o Evangelista São João, esta é a oportunidade para que Jesus comece a manifestar a sua identidade e missão. Caná da Galileia é o local escolhido pelo Senhor para o início de sua vida pública, que culminará com aquilo que se chama “a hora de Jesus”: sua Paixão, Morte e Ressurreição.
Algumas características deste primeiro milagre do Senhor são importantes para a compreensão da mensagem que este texto pretende nos fazer entender. Sobretudo o da abundância de vinho, que era considerado um dos sinais da vinda do Messias. Este vinho novo, de altíssima qualidade, nos leva ao Mistério da Eucaristia. Da mesma forma, o título que Jesus dá a sua Mãe, chamando-a “mulher”, nos faz compreender que ela, como mulher, nos é entregue na cruz como “Mãe”. É da boca de Maria que sai a ordem para este primeiro milagre “Fazei tudo o que Ele vos disser”, em perfeita comunhão com a própria Missão de Jesus, que veio fazer tudo o que o Pai quer a seu respeito.
A 1a Leitura (Isaías 62,1-5) nos apresenta a palavra do profeta que anuncia uma nova realidade. O tempo histórico em que foi escrito este texto profético é o da volta do exílio. Após o Decreto de Ciro, por volta do ano 537 AC, o povo de Deus prepara-se para voltar à Terra Prometida. A razão deste retorno fundamenta-se no amor de Deus para com o seu povo, que o profeta apresenta com as características de um amor nupcial: coroa, diadema, etc.
Retornando à Terra Prometida, o povo de Israel é convidado a retornar às suas origens, ou seja, à sua fé original e à comunhão de Aliança com Deus, que deve ser sempre a referência da vida deste povo.
Na 2a Leitura deste Domingo (1o Coríntios 12,4-11), vamos escutar o Apóstolo São Paulo, que nos apresenta alguns carismas presentes nas Comunidades cristãs. Carismas que não são dados a todos. O que o Apóstolo quer nos ensinar não é que existam cristãos desprovidos de dons do Espírito Santo, mas sim que não existem pessoas que tenham recebido de Deus todos os carismas e dons, em detrimento dos demais. Na Comunidade cristã, todos recebem dons e carismas, e esta diversidade é um enriquecimento espiritual e humano, proveniente de Deus, para o bem de todos. O importante é que cada um, agraciado por Deus com estes dons e carismas, os coloquem a serviço de todos mantendo a unidade na caridade.
O Mistério da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo são as autênticas origens da Comunidade do Novo Povo de Deus que é a Igreja.
Cada Eucaristia que celebramos, especialmente aquela Dominical, nos renova e nos faz mergulhar cada vez mais profundamente no Mistério de Cristo, bem como nos mantém no caminho das núpcias eternas.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen