As eleições e seus desafios

Estamos novamente diante de eleições em nosso país e sabemos que é responsabilidade de todo cidadão participar conscientemente da escolha de seus representantes, sempre tendo em vista o bem comum. O cristão deve fazê-lo, iluminado pela sua fé e pelo amor cristão. Sem citar bandeiras partidárias, percebemos como muitos políticos vêm exercendo seu poder, tantas vezes distanciado das necessidades essenciais da população. Por isso somos responsáveis por governantes que exerçam seus cargos com o dever de servir ao bem comum. Alimentamos um clamor contra o poder que se torna fim em si mesmo e não representação popular. A mudança dessa realidade requer a participação dos cristãos na política, como eleitores ou mesmo como candidatos. Vale lembrar aqui o porquê do envolvimento político, segundo o Papa Francisco: “Devemos envolver-nos na política, pois ela é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum” (EG 205 e FT 180). No parecer do Pontífice, se a política se tornou uma coisa “suja” é porque nos envolvemos na política sem o espírito do evangelho. A pandemia ensinou-nos que devemos voltar a pôr a dignidade humana no centro de tudo e sobre este pilar construir as estruturas sociais alternativas que precisamos. Outro aspecto a considerar, segundo o Pontífice, é que o amor não se expressa somente nas relações íntimas e próximas, mas também nas macrorrelações, como relacionamentos sociais, econômicos e políticos. A caridade social leva-nos a amar o bem comum e a buscar o bem de todas as pessoas, não só individualmente, mas também na dimensão social que as une: “É caridade acompanhar uma pessoa que sofre, mas é caridade também tudo o que se realiza… para modificar as condições sociais que provocam o seu sofrimento” (FT 186).

A Igreja recomenda aos ministros da religião não fazer política partidária, mas eles não podem renunciar à dimensão política da existência: “Queremos ser uma Igreja que serve, que sai de casa, que sai dos seus templos, que sai das suas sacristias, para acompanhar a vida, sustentar a esperança, ser sinal de unidade (…) para lançar pontes, abater muros, semear reconciliação” (FT 276).

Os períodos eleitorais tornam-se momentos propícios à participação dos cristãos no processo decisório sobre aqueles e aquelas que conduzirão a vida pública. É claro, este não é o passo único, pois é preciso o acompanhamento do trabalho dos eleitos. O monitoramento dos poderes públicos deve se pautar pela defesa dos valores éticos, pelo combate incessante à corrupção, pela luta contra a violência em suas diversas manifestações.

A participação na luta pela reforma política é outra maneira de os cristãos se manifestarem contra o difuso sentimento de decepção e descrença na política institucional. Nas eleições de 2022 precisamos eleger pessoas que se disponham a aprovar as grandes reformas necessárias para um país melhor. O voto é forma importante de exercer nossa cidadania, somada às nossas convicções e lutas por um mundo mais humano e cristão, conforme os valores do evangelho. O eleitor consciente tentará conhecer o passado de seus candidatos e averiguar se o discurso e a prática por eles apresentados afinam com os valores da ética, da justiça e do bem comum.

O silêncio, a passividade e a omissão não transformam a realidade política, pelo contrário, tornam-se atitudes responsáveis pela deterioração da democracia, que tanto desejamos aprimorar e consolidar. Boas eleições!

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul