As Festas de Junho

As tradicionais festas juninas representam uma oportunidade privilegiada para tomar distância da cotidianidade com seus usuais e necessários afazeres, e re-fazer a experiência do encontro alegre de pessoas, através da música, do canto e da dança. É também oportunidade para novamente degustar o quentão, a pipoca, o pé de moleque, a broa de fubá, a paçoca e a canjica, expressões de uma saudade da vida simples do campo. É que quase sem contato com as coisas da terra e sem contatos vigorosos entre si, as pessoas não deixam de ser seres da terra, marcadas pelo desejo do encontro, alegria e partilha do que há de mais íntimo no humano: o convívio harmonioso, alegre e solidário.

As festas juninas fazem parte do folclore nacional. Em tempos de modernização acelerada, elas recordam a necessidade de promover uma convivência pacífica e salutar entre a tradição e a modernidade, entre o homo ludens o homo faber, entre o céu e a terra, pois “crescer significa abrir-se à amplidão dos céus, mas também deitar raízes na obscuridade da terra; que tudo que é verdadeiro e autêntico somente chega à maturidade se o homem for simultaneamente ambas as coisas: disponível ao apelo do mais alto céu e obrigado pela proteção a terra que oculta e produz” (M. Heidegger).

Os elementos que compõem estas festas – fogos de artifício, músicas tradicionais e danças, pratos típicos, erguimento do mastro – conservam um sentido, por vezes diluído, de unidade entre tudo o que existe e sucede na experiência humana. Este sentido se coloca à disposição de todos através das tradições culturais que representam a hipótese de realidade com que cada pessoa pode olhar o mundo em que vive. Entretanto, em um mundo no qual tudo se torna motivo de negócio, até mesmo o folclore, as tradições culturais e religiosas, com sua sabedoria, correm o risco de perder sua característica de oferecer significado à vida e ao mundo.

As festas juninas expressam a saudade e o desejo humano de confraternização, favorecendo a promoção de integração e de comunhão. Representam a possibilidade de, a partir de uma realidade fragmentada e de um sentido de vida diluído, favorecer a superação das dificuldades imputadas, a extinção de bloqueios e empecilhos impostos nestes últimos tempos por um vírus, e a reconstrução da unidade de todas as coisas.

Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB