As tempestades

Uma das coisas que não podemos negar é que as tempestades fazem parte da nossa vida. Ninguém pode dizer que nunca enfrentou ou nunca enfrentará tempestades, ninguém atravessa o mar da vida sem enfrentar tempestades. Talvez as tempestades sejam a forma que o maligno encontra para nos fazer desistir dos nossos ideais, abrindo mão dos nossos valores e nos desviando da meta da nossa salvação. Mas também podemos dizer que, algumas vezes, elas surgem para nos fazer colocar os pés no chão, para nos devolver o senso de realidade, para nos ensinar a encarar a vida como ela é. Ou como uma forma de testar a nossa capacidade de perseverança, para verificar se temos um objetivo sério na vida e se estamos dispostos a lutar para alcançá-lo.

Em Mt 14,22-33 temos o relato da tempestade, quando os discípulos viram Jesus andando sobre o mar agitado, vindo ao encontro deles. Diante do medo dos discípulos Jesus disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14,27). Quando nos parece impossível atravessar as tempestades e prosseguir com a nossa vida, Jesus nos diz: Coragem! Eu estou contigo nesta travessia. Não desista!

As tempestades, hoje, têm um rosto bem concreto: é a economia que não está bem, o desemprego ou a ameaça dele, as doenças e as guerras, os ataques contra a família, a inversão de valores, a violência dentro e fora de casa, as drogas, etc. Enquanto algumas pessoas ainda resistem a essas tempestades e procuram manter o rumo da barca da sua vida, outras acharam mais fácil deixar de remar, deixar de lutar, e se permitiram serem arrastadas pela tempestade.

Neste contexto nos perguntemos: Como vai a nossa fé? Ela está ligada à forma como lidamos com as tempestades; mais especificamente, à imagem que temos de Deus. Para quem imagina Deus como um Pai que superprotege o filho e que está ali para preservá-lo de todo tipo de frustração, as tempestades são motivo suficiente para se revoltar contra Deus e para abandonar a fé. Mas, para quem imagina Deus como um Pai que deseja que seu filho cresça, se torne forte e capaz de encarar a vida com a cabeça erguida, as tempestades são sempre uma oportunidade de crescimento e de fortalecimento da sua fé.

Uma das grandes verdades que aprendi foi: “a verdadeira fé é aquela que nos salva nas tempestades e não das tempestades da vida”. Por isso Jesus nos convida a ser realistas e a tomar consciência de que Ele veio ao mundo não para impedir que as tempestades nos atinjam, mas para nos ajudar a lidar com elas, a atravessá-las e a prosseguir a nossa travessia neste mundo

Também é importante recordar aquela expressão bíblica muito conhecida: “semeiam vento, colherão tempestade!” (Os 8,7). Ou seja, muitas das tempestades que surgem em nossa vida são de responsabilidade nossa, por causa de nossas escolhas e decisões erradas, equivocadas. Por isso, se estamos reclamando das tempestades que enfrentamos, antes, porém, nos questionemos se elas não são frutos de sementes semeadas por nós mesmos.

 

Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé