Ascensão: Ele subiu para elevar-nos
Após quarenta dias da Páscoa, a Igreja recorda a Ascensão de Cristo. Celebra o que se reza no Creio, ao proclamar que Jesus “subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso”. Alguém poderia perguntar qual o sentido dessa festa para o nosso cotidiano? O início do livros dos Atos dos Apóstolos narra que ao concluir 40 dias de aparições, o Ressuscitado foi “elevado ao céu”(At 1,9). E, enquanto os apóstolos olhavam para o céu, anjos exortaram os discípulos a esperar sua volta (At 1,11). O texto também indica que Jesus foi “elevado entre nuvens”. Essa imagem é retirada do Antigo Testamento, onde a nuvem é tida como sinal do mistério da presença de Deus que se revela e se esconde ao mesmo tempo. Tudo é nebuloso porque é próximo e simultaneamente oculto. Distante e próximo é o Cristo que se revela e se esconde no mistério da sua Páscoa e Ascensão. Ele sobe ao céu e permanece próximo da humanidade.
O subir e o elevar-se, neste caso, não indicam um lugar, mas a exaltação de Cristo. Jesus de Nazaré, Crucificado, ao ressuscitar, foi reconhecido como o Messias, o Cristo. Mais, ele foi revelado como o Senhor, o Filho, que é também adorado e glorificado como Deus. Subir aos céus, portanto, não alude à mera elevação a um espaço, mas ao reconhecimento de sua dignidade de Deus que senta à direita do Pai. No contexto oriental, essa expressão indica que ele participa do mesmo poder do Pai. Podemos dizer que o céu é onde Deus está. Mais do que um lugar ou um espaço delimitado, o céu é uma presença. Onde está Deus, aí está o céu.
Ainda nos resta entender o sentido dessa Festa para o cristão e para a humanidade de todos os tempos. Se contemplamos Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, considerando que a Ascensão elevou até o Pai também a natureza humana de Jesus Cristo, entendemos que a nossa humanidade entrou no mais íntimo de Deus. A mesma natureza que fez Jesus chorar a morte de seu amigo Lázaro, contemplar os lírios do campo e os pássaros do céu, compadecer-se dos enfermos, tocar o leproso, acalmar o mar e carregar o lenho da cruz, encontra-se, agora, elevada à Trindade Santa, pois o Filho, ao ser elevado ao céu, carregou consigo toda experiência do Crucificado-ressuscitado. Nada que é humano é estranho ao Senhor. Ele que se fez carne como todo ser humano, exceto no pecado, pode elevar também toda humanidade, redimida pela sua Páscoa, até Deus. Tudo que é humano interessa ao Senhor, que deseja salvar a todos.
Cabe-nos trabalhar agora para que a humanidade caminhe confiante nos passos de Cristo. A missão do discípulo é anunciar e testemunhar que um novo mundo está preparado para a humanidade. A tarefa que se impõe a todo seguidor de Jesus é a de servir os seres humanos, tocar suas chagas, curar suas feridas e fazer como Jesus: passar pelo mundo fazendo o bem. Afinal, entre a promessa e a sua relização, somos movidos pela esperança que nos torna fraternos, mas também nos faz acreditar na vida celeste que deve qualificar a existência terrestre. Que seja, assim na Terra como será no céu!
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria